REDAÇÃO DO JORNAL DA MÍDIA
O governo do Estado parece querer criar uma cortina de fumaça para desviar a atenção para os eternos problemas do Sistema Ferryboat. Por falta de fiscalização do próprio governo e, principalmente, por falta de manutenção, as embarcações continuam apresentando problemas seguidamente, a despeito de o Estado ter desembolsado R$ 40 milhões em um projeto anunciado de que seria para a reforma definitiva da frota, executado pela Internacional Marítima, operadora do sistema, junto com a Lumar, uma empresa da Bahia.
Enquanto o vice-governador e secretário de Infraestrutura garante que o acidente com o ferry “Pinheiro”, que ficou à deriva durante horas na Baía de Todos os Santos, “foi sabotagem”, o diretor-executivo da Agerba, Eduardo Pessoa, reconheceu, em entrevista à TV Itapoan, que a manutenção não está sendo feita como deveria por falta de tempo, já que no Verão, segundo ele, a demanda cresce e os navios não param.
O sistema na realidade está capengando e é caótico, faz tempo. Da frota de oito ferries, só 5 podem operar. Mas, normalmente, o usuário só encontra 3 ou 4 embarcações em tráfego, como é o caso de hoje, já que o “Pinheiro” continua sem navegar. Ao contrário do que afirma Otto Alencar, os tripulantes das embarcações revelam sempre que praticamente não existe manutenção dos navios e quando uma embarcação para por algum problema, o serviço sempre é mal feito.
Mas o secretário Otto Alencar pensa diferente e garante que no Pinheiro foi trocado até o casco e o navio estaria, segundo ele, em ”perfeitas condições”. Na verdade, desde que foi “reinaugurado” pelo governo em 29 de janeiro do ano passado, o “Pinheiro” tem um histórico bem distante do que o governo divulga. O navio quebrou uma semana despois de reinaugurado, inclusive na resença do governador Jaques Wagner, e nos últimos 12 meses já quebrou diversas vezes. É possível que nesse período tenha ficado mais parado do que operando na travessia.
Otto Alencar vai mais além sobre o acidente do Pinheiro, cujas imagens, à deriva na Baía de Todos os Santos, sendo puxado por uma velha corda pelo ferry Juracy Magalhães, foram mostradas para todo o país. Uma cena bizarra, rícula, que deve ter deixado os turistas de queixo caído.
Por que a Internacional Marítima, que diz ter tanta experiência em navegação, não providenciou um rebacador para realizar a operação e tirar o navio do meio da Baía de Todos os Santos? Seria o óbvio. Afinal, a sede do sistema fica em São Joaquim, colada a várias empresas de rebocadores que atuam no Porto de Salvador. Onde está a iniciativa, a competência? Pelo menos o vexame maior seria evitado. Aquelas cordas que puxaram o velho Pinheiro, mostradas pela TV, são na verdade, o retrato da falta de manutenção e do descaso para com o patrimônio público.
Será que o Sistema Ferryboat atual transporta vidas humanas?
“Foi Sabiotagem, sim” – Mas o vice-governador só enxerga sabotagem e garante que há interesses políticos por traz. Tudo uma tentativa de desviar a atenção e ganhar espaços na mídia. Aliás, um parêntese aqui, que imprensa é essa que sequer ouve ou pelo menos tenta buscar informações junto ao pessoal que trabalha embarcado nesses navios enferrujados do sistema ferryboat? A Capitania dos Portos deve ter, com certeza, um parecer sobre a situação real da frota do sistema ferrybat. Onde está o jornalismo investigativo? É só publicar o que o governo fala?
“Foi sabotagem. Tem gente interessada politicamente. Fizeram isso no Anna Nery, soltaram os fios, o motor queimou e não identificamos o culpado”, afirmou Otto Alencar. É verdade mesmo: o governo nunca divulgou o resultado da sindicância que disse ter aberto há pouco mais de um ano para apurar um incêndio ocorrido em 18 de novembro de 2012 na praça de máquinas do ferryboat “Anna Nery”, e que na época o secretário Otto ocupou todos os espaços na imprensa gloriosa para falar que houve sabotagem, como agora faz mais uma vez.
Os acidentes com os navios do sistema são constantes e vão acontecer sempre, pois o Governo do Estado não sabe verdadeiramente fazer valer o seu papel de agente fiscalizador, não sabe se preocupar com o patrimônio público. Pelo sistema já passaram, desde 1996, nada menos que quatro empresas. Todas fracassaram na prestação de um serviço eficiente à população. Mas todas ganharam muito dinheiro. E todas sucatearam o patrimônio público, por conta da negligência, da irresponsabilidade e da incompetência dos governantes da Bahia.
Negligência e Irresponsabilidade – A Agerba, a agência de regulação que deveria fiscalizar o sistema, é um órgão que se esfacelou completamente no governo Wagner. Sem qualquer autonomia para cumprir as suas atribuições, passou a ser comandada no governo Wagner por filhos e afilhados de deputados. Não faz nada em defesa do cidadão, que é desatendido por essas empresas cncessionárias despreparadas que o governo vai buscar em outros Estados para armengar mais ainda o sistema, que é essencial para o transporte entre Salvador e a Ilha de Itaparica.
No Ministério Público da Bahia, existe quase uma dezena de ações contra o Sistema Ferryboat, concessionárias e o governo, através da Agerba. Em entrevista ao jornal A Tarde, a promotora de Justiça Joseane Suzart sustenta que os problemas com o sistema são recorrentes e que o MP-BA instaurou procedimento para apurar os transtornos causados aos usuários.
Segundo a promotora, o inquérito deverá ser concluído até o final deste mês e uma nova ação civil pública será proposta.
“Estamos finalizando. Os problemas no inquérito são os mesmos que estão na ação civil pública (2009). Como os problemas não foram resolvidos, vamos propor outra ação civil pública”, destaca a promotora.
Atentam, caros leitores: os problemas se arratam desde o final de 2009, tudo na gestão do governador Jaques Wagner.
Empresária Vai ao MPF – Se uma ação para valer do Ministério Público da Bahia contra esses desmandos não acontecer, é possível que a nível federal ocorra uma solução. A presidente da Associação Comercial da Ilha de Vera Cruz, Lenise Ferreira, informou que vai entrar hoje com uma representação no Ministério Público Federal contra o governo estadual, devido à situação “de sucateamento do sistema ferryboat, que é o câncer da ilha”.
Que ninguém descarte também a possibilidade de ocorrer uma investigação por parte do Conselho Nacional de Justiça. A ministra Eliana Calmon afirmou recentemente que órgãos respeitáveis de defesa da sociedade e do interesse público, como o próprio Tribunal de Justiça, o Ministério Público e o Tribunal de Contas, estão “cooptados” pelo governo da Bahia, ou seja, trocaram suas prerrogativas por alguma benesse que ela não declinou.
O caminho para se apurar tudo sobre o sistema ferryboat, controlado pelo governo do Estado, com punição de todos os envolvidos, pode ser também o CNJ.
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