REDAÇÃO DO JORNAL DA MÍDIA
A Internacional Marítima, concessionária contratada pelo Governo da Bahia para explorar o sistema ferryboat, está praticando os mesmo erros e algumas ações impróprias para uma empresa que não só tem a responsabilidade de transportar passageiros, mas também de preservar as embarcações do Estado. E o meio ambiente, também.
Na última terça-feira, o navio “Pinheiro”, que segundo o governo foi “totalmente reformado” na Base Naval de Aratu, com custo que chegou aos R$ 4 milhões, foi encalhado em um banco de areia, encostado a um manguezal na Baía de Aratu, próximo à Base e bem em frente à Marina Aratu.
Confira abaixo imagens exclusivas do arquivo do JORNAL DA MÍDIA sobre a “tecnologia” de encalhe de ferries na praia. Clique no player e assista ao slide
A denúncia, feita através de mensagens de navegadores da região, foi comprovada pelo JORNAL DA MÍDIA em telefonemas à Marina de Aratu, ontem, às 12h25, e meia hora depois por empregados marítimos embarcados no “Pinheiro”.
No diálogo com a Marina Aratu, a funcionária que atendeu o telefone disse:
“Olha, aqui não tem como a gente ter contato com o pessoal embarcado no ferry, mesmo porque está na hora do almoço”, disse a funcionária da Marina Aratu.
– Mas será que esse ferry vai sair agora?, insistiu o repórter.
“Não, não tem como. A maré está toda baixa”, respondeu a moça.
– Daria tempo chegar até aí, então, saindo aqui de Salvador, perguntou de novo o repórter.
“Tranquilamente. O navio está totalmente de lado. Só quando a maré subir de vez ele sai lá no final da tarde”
Por volta das 13h, o JORNAL DA MÍDIA conseguiu contato com um marítimo embarcado no “Pinheiro” encalhado no banco de areia.
“Olá chefia serviço sendo concluído”.
– E que horas sai?
”Vai ser lá para as 16h no pico da maré alta”
Às 16h26, o JM fez novo contato com o “Pinheiro”, que confirmou:
“Estamos zarpando agora. Tudo tranquilo. Previsão de 1 hora e 10 minutos até São Joaquim”.
Às 17h54, o último contato do JM com o “Pinheiro”.
“Já estamos aqui ao lago esperando um navio sair da gaveta (do Terminal de São Joaquim) para atracar e descarregar o material”.
Prática condenável – Encalhar navios do sistema ferryboaté uma forma condenável que foi muito praticada pela ex-concessionária do ferryboat, a TWB, desde que a empresa tinha chegado à Bahia, em 2005. É uma forma que a operadora encontrava para fudir dos custos de docagem na Base Naval de Aratu.
A TWB utilizava muito a praia da Gameleira, praticamente encostada no Terminal de Bom Despacho, para fazer serviços nos navios, que chegavam lá com a maré totalmente alta. Quando a maré baixa chega, o navio fica com o casco totalmente exposto e na praia é feito o serviço de limpeza do casco e outros como troca de hélices e reparos de eixo.
Detritos na praia e no mar – Além de prejudicar o meio ambiente, com a liberação de óleo combustível e detritos na praia, no maguezal e no mar, a operação causa um grande prejuízo também ao patrimônio público. Com o navio encalhado, toda a estrutura física da embarcação é comprometida. Na época da TWB, este foi um dos motivos para o sucateamento da frota do sistema ferryboat, que resultou em um prejuízo superior a R$ 20 milhões aos cofres públicos.
Em 17 de maio de 2011, a Capitania dos Portos flagrou, após denúncia do JORNAL DA MÍDIA, o ferry “Agenor Gordilho” encalhado no manguezal da Baía de Aratu, o mesmo local utilizado agora pela Internacional Marítima. Na época, a Capitania dos Porto multou a TWB e considerou a operação absurda.
“Para fazer o procedimento a TWB teria que ter pedido, antes de encalhar o navio no manguezal, autorização ao IMA (Instituto do Meio Ambiente) e a uma sociedade classificadora, além de comunicar o fato à autorizade marítima, no caso a Capitania dos Portos”, explicou a CP ao JORNAL DA MÍDIA.
Além da ação totalmente irregular da Internacional Marítima de ter encalhado o ferry “Pinheiro” na Baía de Aratu, é condenável também a omissão completa da Agerba, que é o órgão fiscalizador e responsável pela gestão do contrato da concessionária, que é do Maranhão e que chegou à Bahia escolhida “a dedo” pela Secretaria de Infraestrutura.
Na época da TWB, a Agerba, através do diretor-executivo Eduardo Pessoa, anunciava de forma bombástica as pesadas multas que aplicava na TWB por essa e outras irregularidades. Agora não. A agência de regulação do governo se esconde, se omite, e finge desconhecer o fato. É capaz até de passar até a admitir que o procedimento de se encalhar embarcações com o porte de um ferry na praia ou no mague é uma coisa absolutamente normal.
Fique de olho, governador – O governador Jaques Wagner tem que se envolver mais, direta ou indiretamente, de alguma forma, com essa questão do sistema ferryboat. Wagner teria que ter uma pessoa de sua extrema confiança agindo na Seinfra e Agerba para acompanhar passo a passo o que realmente está sendo feito. E até o que foi feito de maneira equivocada com a reforma dos navios.
Não é possível que uma embarcação totalmente reformada, que passou mais de quatro meses docado na Base Naval de Aratu, como garantiu o secretário Otto Alencar, como foi o caso do ferry “Agenor Gordilho”, quebre e volte ao estaleiro ou ao manguezal de Aratu, com menos de 10 dias de reincorporada. Que reforma foi essa?
Milhões no mar – No “Agenor Gordilho” o Estado desembolsou nada menos que R$ 4,7 milhões na reforma, conforme revelou com muito estardalhaço o vice-governador Otto Alencar. Esse navio operou na Semana Santa e um dia depois do feriadão apresentou problemas de eixo, que estava resultando em um vazamento de 100 litros de óleo por viagem. Retirado de tráfego, voltou a fazer a travessia somente ontem, dia 10.
A situação do “Pinheiro”, dado também como novinho em folha pelo secretário da Seinfra, também quebrou e teve que ser encalhado agora na Baía de Aratu para fazer serviço também de eixo. Coisa estranha. O “Rio Paraguaçu” nem parece que saiu da reforma na Base. Já tem aspecto de navio sucateado. Difícil se entender. Conforme o vice-governador Otto Alencar, quem fez a reforma dos navios, com custo superior a R$ 25 milhões, foi a dobradinha Internacional Marítima (Maranhão) e Lumar (Bahia) com supervisão total da Agerba.
Além do governador Wagner, o Ministério Público da Bahia também precisava se envolver muito mais na questão ferryboat. No último domingo, em um programa jornalístico da TV Band, a promotora Rita Tourinho declarou: “O problema do ferry é de gestão e de fiscalização”. Ou seja: o sistema não tem nem uma coisa nm outra. Nem boa gestão e muito menos fiscalização. A Agerba não fiscaliza nada. Não se sabe qual o motivo. Dizem que a diretoria da agência recebe “ordens” do além para ficar caladinha.