O programa Conversa com Bial, da TV Globo, promoveu nesta terça-feira (17) um debate sobre os cuidados paliativos no fim da vida com a presença da médica Ana Claudia Quintana; Elfriede Galera, a Frida, paciente com câncer metastático; e Letícia Franco, portadora de uma doença terminal. Esta última é uma renomada oftalmologista que optou pelo suicídio assistido em uma clínica na Suíça, após esgotar todas suas possibilidades de tratamento. Ela é portadora de uma síndrome rara, a Asia Síndrome. “Recebi o diagnóstico em 2010. A minha estimativa de vida é de nove anos”, contou Letícia.
De acordo com um ranking divulgado pela revista britânica “The Economist” sobre a qualidade da morte, o Brasil ocupa o 42º lugar – em uma lista com 80 países – estando atrás de nações como Uganda e Mongólia. Nesses tempos em que a expectativa de vida é cada vez maior, o debate sobre os cuidados com pacientes terminais se tornou um tema urgente. No caso de Letícia, a busca pelo suicídio assistido significa também o fim do sofrimento para sua família.
“Comecei a ter um agravamento muito sério da patologia, sem perspectiva de melhora e cura. Foram muitas tentativas de tratamento e internações.”
“Quando tenho crise, fico paralisada e paro de respirar. Fiquei em coma quase seis meses.”
A médica detalha como a doença afetou não só ela, mas também quem está ao seu redor: “A dor e o sofrimento não eram só meus. Parecia que eu estava matando minha família. Foi aí que decidi não prolongar mais isso, para ninguém sofrer”. Após esgotar os tratamentos e possibilidades existentes, Letícia optou por uma última solução: o suicídio assistido. No entanto, com a aprovação da clínica suíça para seguir com o procedimento e, depois de uma dura discussão com sua família, mais uma surpresa:
“Arrumei tudo para ir [para a Suíça] e minha mãe desistiu. Ela perguntou como ia conseguir levar uma filha dela para morrer? Foi um momento de desespero meu. E o medo da doença voltar e morrer com dor, no hospital, cheia de tubos…?”
Reencontro com o ex
Noivo de Letícia, Guilherme Viñe reatou com a ex-namorada após ver um post de despedida em uma rede social. Com o reencontro, ele acabou fazendo com que médica adiasse sua viagem para a Suíça: “A gente se distanciou porque ela tinha ido estudar fora do Brasil, mas a gente nunca deixou de se gostar”.
“Fui lá para me despedir dela em todos os sentidos. Não deu certo! Não consegui ir embora e a gente decidiu se casar.”
A advogada Luciana Dadalto deu algumas definições de termos de autonomia no fim da vida para ajudar as pessoas a entenderem melhor o assunto: “Eutanásia é abreviação da vida de um paciente com uma doença grave e incurável, a pedido desse paciente, por uma terceira pessoa. No Brasil, é homicídio. Distanásia é o prolongamento artificial da vida”.
A advogada segue sua explicação, diferenciando o que pode ser chamado de ‘boa morte’:
“Ortotanásia é o que se entende como boa morte. É basicamente o que os cuidados paliativos fazem. É o entendimento de que a vida não tem que ser nem abreviada, nem prolongada. Mas ser respeitada durante o curso da doença”.