Quando chegar nesta sexta-feira (27) à Avenida Paralela em Salvador, onde fica o escritório da Odebrecht na capital baiana, o empresário Emílio Alves Odebrecht iniciará uma mudança histórica no conglomerado fundado na mesma cidade em 1944 por seu pai, Norberto. Após 20 anos à frente do conselho de administração de um dos maiores grupos empresariais do País, Emílio comandará pela última vez uma reunião ordinária do colegiado.
A presidência do conselho sairá das mãos da família Odebrecht pela primeira vez. A saída de Emílio já estava prevista em seu acordo de delação premiada. Mas ele poderia arrastar sua permanência no grupo ainda por bastante tempo sem infringi-lo – a delação permitia que ele ficasse por dois anos na Odebrecht. A surpresa veio, portanto, da decisão do empresário de antecipar o movimento. Foi uma forma de tentar convencer o mercado das boas intenções do grupo para superar a Operação Lava Jato, que colocou a empresa no centro de um dos maiores escândalos de corrupção no mundo.
A despedida de Emílio teve início nessa quinta-feira, 26, num jantar em seu apartamento, no bairro Caminho das Árvores, em Salvador. Ali, num edifício onde moram vários membros da família Odebrecht, o empresário recebeu os atuais conselheiros e alguns executivos do grupo. Fontes ligadas à companhia preocuparam-se em justificar, mesmo sob reserva, o encontro. Segundo pessoas próximas a Emílio, que começou a trabalhar no grupo em 1968, a intenção do empresário não foi festejar, mas agradecer aos integrantes do conselho pelo trabalho feito.O momento não é dos mais propícios a celebrações.
Na quarta-feira, a construtora do grupo deixou de pagar R$ 500 milhões em títulos emitidos no exterior. Em função disso, a agência de classificação de risco Standard & Poors cortou na quinta-feira a nota de crédito global da empresa. O conglomerado negocia com bancos novo empréstimo, de até R$ 2,5 bilhões, para cobrir essa e outras dívidas.Se não conseguir convencê-los a liberar o dinheiro nos próximos dias, a empreiteira corre o risco de ter de recorrer à recuperação extrajudicial para não quebrar, segundo executivos a par dos números. Por causa dessas negociações, Emílio poderá participar de alguma reunião extraordinária para decidir sobre o tema enquanto o novo conselho não é formado.