Em depoimento ao juiz federal Sergio Moro, o presidente do conselho administrativo da empreiteira que leva o nome da família, Emílio Odebrecht, disse que o caixa dois foi o “modelo reinante” em campanhas eleitorais no país até pouco depois da deflagração da Operação Lava Jato. O empresário depôs ao juiz federal como testemunha de defesa de seu filho, Marcelo Odebrecht, na ação penal em que ele é réu ao lado do ex-ministro Antonio Palocci e outros doze acusados. O processo apura o que o Ministério Público Federal chama de “conta-corrente da propina” mantida por Palocci, pelo PT e pela Odebrecht.
A pedido dos advogados do empresário, um dos 77 executivos da Odebrecht a firmarem acordos de delação com o Ministério Público Federal (MPF), o depoimento havia sido colocado em sigilo por Moro, já que as delações ainda estão em sigilo no Supremo Tribunal Federal (STF). Um erro técnico da Justiça Federal do Paraná, no entanto, acabou disponibilizando os vídeos por algum tempo no sistema de consulta processual.
Depoimento de Emílio Odebrecht a Sérgio Moro:
Em seu depoimento a Moro, que durou 37 minutos e foi tomado na sede da Justiça Federal em São Paulo, Emílio Odebrecht disse que a empreiteira pagava propina desde que seu pai, Norberto, fundador do grupo Odebrecht, liderava a “organização” – termo recorrentemente usado no depoimento para se referir ao conglomerado.
“Existia isso [caixa dois], e sempre foi um modelo reinante no país, que veio até recentemente. Houve impedimento a partir de 2014, 2015. Mas até então sempre existiu, desde a época de meu pai, a minha época, e também de Marcelo, todos os que foram executivos do grupo. Eu mesmo, na minha colocação, tive dois responsáveis”, lembrou.
Odebrecht relatou, no entanto, que, enquanto comandou o grupo, os ramos em que a empresa atuava eram mais restritos e, em razão disso, a distribuição de dinheiro “por fora” a campanhas políticas não era tão complexa quanto a descoberta pela Lava Jato: um departamento à parte, que contava com executivos para encaminhar o pagamento de propinas e caixa dois, eufemisticamente batizado de Departamento de Operações Estruturadas.