Um dos coordenadores da força-tarefa da Operação Lava Jato em Curitiba, o procurador Carlos Fernando dos Santos Lima disse que a defesa de Marcelo Odebrecht pratica ”leviandades” e produz ”ficção” para retardar o julgamento do empreiteiro. A nova celeuma entre acusação e defesa surgiu depois que o criminalista Nabor Bulhões, que conduz a defesa de Odebrecht, protocolou nesta semana na Justiça Federal em Curitiba uma petição em que acusou a Procuradoria de manipular um depoimento do delator Paulo Roberto Costa para prejudicar o executivo.
Segundo informa nesta sexta-feira o jornal Folha de São Paulo, em reportagem de Graciliano Rocha e Mario Cesar Carvalho, o advogado de Odebrecht afirmou que a transcrição do depoimento do ex-diretor da Petrobras, gravado em vídeo em 3 de setembro de 2014, omitiu de propósito um trecho em que Costa disse conhecer Odebrecht, mas nunca ter tratado do recebimento de propinas com ele. O depoimento em questão era sobre quem eram os dirigentes de empreiteiras com quem o então diretor da estatal tratava da distribuição de obras da empresa em troca de suborno.
Na ocasião, após Costa ter citado Rogério Araújo e Márcio Faria como seus interlocutores na Odebrecht, um procurador perguntou sobre o presidente do grupo.
”Uai, eu conhecia ele, tive algum contato com ele, mas nunca tratamos de nenhum assunto desses diretamente com ele…”, disse.
Depois, Costa pediu: ”Nem põe o nome dele aí porque com ele não, ele não participava disso”. Segundo o procurador, o termo de declarações do delator é fidedigno, porque sua função é resumir os principais pontos do que foi dito.
Na visão do Ministério Público, a frase de Costa que não entrou na transcrição é irrelevante, porque Odebrecht jamais foi acusado de ser a pessoa que tratava diretamente da propina na Petrobras, mas o dono da última palavra em uma cadeia a quem os demais executivos se reportavam. Lima afirmou ainda que, na época, o próprio Costa considerou que a menção a Marcelo Odebrecht era desnecessária na transcrição.
Fonte: Folha de São Paulo