REDAÇÃO DO JORNAL DA MÍDIA
Salvador – O filho do deputado estadual João Bonfim (PDT), da base do governador Jaques Wagner, é quem controla todo o setor de fiscalização da Agerba (Agência Estadual de Regulação de Transportes, Energia e Comunicações da Bahia). Apesar de não ter feito cursinho de capacitação ou qualquer treinamento na área de transporte intermunicipal e de demonstrar que não entende o verdadeiro papel de uma agência de regulação, Guilherme Bonfim responde pela área mais importante de toda a atividade da Agerba – a Diretoria de Fiscalização, conhecida também com a sigla Defiis. O cargo é eminentemente técnico, mas sempre é ocupado por afilhados de políticos do governo.
De quebra, o amigo de Guilherme Bonfim e cunhado do deputado Rogério Andrade, também da base do governo, nomeado na Agerba como Antonio Galdino, é o gerente de Fiscalização da autarquia. Acusada por fiscais de baixa produtividade, a dobradinha política funciona em perfeita sintonia dentro da agência de regulação, que além do transporte intermunicipal “regula” também o sistema ferryboat, reconhecidamente o pior serviço público da Bahia ou, quem sabe, do Brasil.
Os fiscais da Agerba que atuam nos polos estaduais não poupam seus diretores: “Eles (Bonfim e Galdino) mapearam o transporte clandestino no Estado. Em regiões de interesse político do grupo deles, como o Sodoeste, os talões dos fiscais ficam em branco. Não pode haver autuações aos clandestinos de Brumado, Guanambi, Caetité, redutos do deputado João Bonfim. Aí você chega aos municípios do Recôncavo, os clandestinos atuam tranquilamente em Cruz das Almas, São Felipe, Cachoeira e por aí. No Recôncavo a ordem para não multar vem do gerente Galdino, cunhado do deputado Rogério Andrade, cujo reduto se concentra em Santo Antonio de Jesus, Amargosa, Elísio Medrado, entre outros municípios. Eu desafio os dois (diretor e gerente) a apresentarem uma multa sequer paga. Aqueles números dele não mostram a realidade Os clandestinos são multados, têm carros apreendidos, e no dia seguinte passam pelos fiscais da Agerba dando risada”,
E Haja Política – Se não bastasse o cargo importante de comandar a área de fiscalização, Guilherme Bonfim é presidente do diretório municipal do PSD do município de Brumado desde 2011, ano que fez sua estreia na Agerba como diretor. O PSD tem como principal liderança na Bahia Otto Alencar , que também é secretário estadual de Infraestrutura. A Seinfra, na estrutura do Estado, é quem controla a Agerba..
Compreende-se agora porque o sistema de transporte intermunicipal de passageiros está à beira do caos e os empresários reclamam tanto do governo Wagner pela invasão sem precedentes que o transporte clandestino determinou na Bahia nos últimos 3 anos. Mesmo fora dos redutos eleitorais dos deputados governistas, a clandestinidade rola solta, com milhares de carros sucateados transportando vidas humanas sem qualquer segurança e controle do Estado.
Sem Autonomia – O JORNAL DA MÍDIA ouviu nos últimos dois dias vários empresários do setor e está editando uma matéria especial para mostrar um pouco mais sobre a realidade do sistema intermunicipal de transportes. Na reportagem, prevista para ser publicada em breve, é feita uma abordagem mais detalhada dos números da Agerba, mostrando a falta de estrutura e de autonomia da autarquia para exercer as suas atribuições e o avanço desenfreado do transporte clandestino em todo o Estado. A matéria fala também sobre a parada que a Agerba deu na licitação das linhas do transporte complementar, que também está contribuindo para o avanço dos clandestinos.
“Os números que ele (Guilherme Bonfim) divulgou com a finalidade de contestar a matéria publicada denunciando a verdadeira desordem que impera no transporte clandestino, são irrisórios e hilários. Não representam nada diante do que realmente está acontecendo na Bahia em relação às multas que a Agerba diz que aplica e o que acontece na prática, com o transporte clandestino crescendo de forma assustadora em todo o Estado. Se colocar um político e não um técnico para responder pela área de fiscalização da agência é uma coisa absurda”, revela um empresário do transporte intermunicipal.
Na última sexta-feira, o JORNAL DA MÍDIA publicou, na íntegra, números divulgados pelo diretor de Fiscalização da Agerba, dando conta que as autuações contra o transporte clandestina feitas por sua diretoria, a Defis, cresceram de forma assustadora desde que ele assumiu o cargo, em 2011. “Só em 2011 o crescimento foi de 183% em relação a 2010’’, gabava-se ele. A nota de esclarecimento, em papel timbrado da autarquia e enviada ao JM através do e-mail [email protected], não tinha assinatura do diretor-executivo da Agerba, Eduardo Pessoa, e apenas enaltecia os ‘’números espetaculares’’ que a Agerba teria conquistado.
Além de não ser assinada, o conteúdo do texto da nota deixa clara a fragilidade dos dados e a forma amadora com que a imagem da Agerba chega aos meios de comunicação: parte do texto, além de enaltecer a performance do diretor, se refere ao filho do deputado João Bonfim como “Dr. Guilherme”.
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