Sarah Germano
Agência ANSA
São Paulo – Verónica Michelle Bachelet Jeria, mais conhecida como Michelle Bachelet, concorre a Presidência do Chile neste domingo, cargo que ocupou entre 2006 e 2010. Caso seja eleita, no entanto, deve ser “mais difícil” governar o país, como ela mesma afirmou meses atrás. Bachelet explicou, em entrevista ao jornal local “La Tercera”, que “hoje a população não aceita que lhes dêem qualquer coisa, eles pedem o que sentem que é justo”.
O professor de Ciências Políticas da Universidade do Chile e diretor do Centro de Pesquisa em Opinião Pública do Instituto Chileno de Políticas Públicas, Robert Funk, concorda com a afirmação.
Ele destacou que as expectativas são altas para este seu novo governo. Bachelet não foi somente a primeira presidente mulher do Chile, ela também foi a chefe de Estado que deixou o La Moneda com maior popularidade na história do país (cerca de 84%).
Ela também enfrenta o problema de ter uma coalizão maior. “Quais ministros poderá escolher e quais ministérios entregará aos comunistas [sua legenda], se puder dar algum?”, diz Funk.
Além disso, existe a questão dos movimentos de estudantes, com quem ela já teve problemas no passado. Em 2011, milhares de chilenos foram às ruas pedindo uma educação gratuita e de qualidade, colocando a questão na pauta destas eleições – e fazendo o governo de Sebastián Piñera sofrer picos de falta de popularidade.
“Bachelet fala sobre a educação, tem alguns líderes estudantis em sua coalizão, como Camila Vallejo. Mas se os estudantes olhassem mais a fundo em suas propostas, eles ficariam decepcionados”, diz o acadêmico. Apesar de defender mais recursos para a educação e um sistema gratuito de ensino, ela não é clara quanto à forma como irá promover essas mudanças e sua boa vontade pode ser barrada no Congresso. “Pode ser muito difícil mudar” o sistema, conclui Funk.
Filha de um militar da Força Aérea do Chile, Alberto Bachelet, e da arqueóloga Ángela Jeria, a ex-presidente cresceu entre bases militares, devido ao trabalho de seu pai. O mesmo aconteceu com sua principal rival nas eleições, Evelyn Mathhei, cujo pai era colega de Alberto nas Forças Armadas.
O professor de relações internacionais da Pontifícia Universidade Católica do Chile Roberto Durán, explicou que seus pais eram razoavelmente amigos, mas destacou que essa amizade provavelmente foi passada as filhas, como elas mesmas confirmam.
“Tem diferenças de idade, Bachelet é três anos mais velha e, sobretudo, enorme diferença na vida que levaram”, disse.
Após o golpe de Estado de 11 de setembro de 1973, que impôs o regime ditatorial de Augusto Pinochet (1973-1990), as famílias se afastaram. O pai de Bachelet foi preso “por alta traição a pátria”, pois permaneceu fiel aos ideais progressistas do governo anterior, morrendo na prisão um ano após o golpe. Ele veio a falecer em um centro penitenciário que era dirigida pelo pai de Matthei, Fernando.
Presa em 1975 junto a sua mãe, Bachelet foi exilada. “Enquanto ela foi muito jovem ao exílio na Austrália, Estados Unidos e depois Alemanha Oriental, Matthei construía sua vida pessoal e profissional no Chile”, explica Durán.
Bachelet retorna ao Chile em 1979, já mãe de Sebastián, que nasceu em Leipzig, fruto do relacionamento com o arquiteto Jorge Dávalos. Ela retoma os estudos, se formando em medicina em 1982, neste ano nasce sua segunda filha, Francisca. Ela se especializa em pediatria e trabalha com filhos de vítimas da ditadura.
No começo dos anos 1990 ela começa a trabalhar em uma agência de cuidados com pacientes que sofrem de Aids, a Comissão Nacional da Aids/Sida (CONASIDA), é quando ela conhece o epidemiologista Aníbal Henríquez, pai de sua filha mais nova, Sofia, com quem não chegou a se casar.
A questão foi levantada pela oposição durante a campanha eleitoral de 2005. Ao contrário do previsto, no entanto, a população simpatizou ainda mais Bachelet, a considerando uma mulher forte, que batalhava para criar os filhos.
Nos anos seguintes ela trabalhou no governo nos ministérios de Saúde e de Defesa. Em 2000 ela foi nomeada responsável pela pasta de Saúde pelo presidente Ricardo Lagos. Em 2002 ela assume o Ministério da Defesa, tornando-se a primeira mulher da América Latina a ocupar o cargo. Em 2005 ela enfrenta o atual presidente do Chile nas eleições, sendo eleita no segundo turno. Ela foi a sexta presidente mulher eleita na região.
Após o fim de seu mandato, em 2010, ela assumiu o cargo de diretora da agência das Nações Unidas encarregada de promover a igualdade de gênero, a ONU-Mulheres. Ela deixou o cargo neste ano, para concorrer novamente a Presidência diante da popularidade que ainda tem no país. Na ocasião, o secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, expressou “enorme gratidão por seu excelente serviço” e disse que sua compaixão lhe permitiu mobilizar e fazer a diferença para milhões de pessoas em todo o mundo”. (Ansa Brasil)