Salvador – A presidente da Associação Comercial de Vera Cruz (Ilha de Itaparica), Lenise Ferreira, classificou nesta quinta-feira (26) como “extremamente precário” o serviço atual do Sistema Ferryboat, operado pela Internacional Marítima. Para a empresária, que utiliza diariamente a travessia entre Salvador e a Ilha de Itaparica, a bagunça é generalizada e em todos os níveis. E mais: ela apontou a falta total de compromisso do governo, através da Agerba, para com os usuários, afirmando que a agência de regulação ignora até mesmo as ações do Ministério Público da Bahia.
“Não existe fiscalização da Agerba, os horários continuam a ser descumpridos, portadores de necessidades especiais continuam sendo transportados no convés de veículos, os terminais e embarcações horrorosos, fétidos, totalmente deteriorados pela falta de manutenção e pelo descaso da concessionária. Até mesmo as ambulâncias com pacientes amargam nas longas filas diariamente”, afirma a empresária.
Com a proximidade o Verão, Lenise Ferreira se diz preocupada com o que poderá acontecer. “A alta estação promete ser de muitos transtornos para os usuários e cheia de prejuízos para os comerciantes de toda a Ilha de Itaparica. A má qualidade dos serviços assusta os usuários da travessia e espanta os turistas, que, por falta de informações, às vezes se aventuram em recorrer ao sistema”, observou.
Médico condena navio
O descaso do governo do Estado para com a situação do ferryboat realmente impressiona. Apesar de o secretário da Infraestrutura e vice- governador Otto Alencar ter afirmado que foram investidos mais de R$ 40 milhões para reparar os navios, a situação das embarcações é de dar pena. A Internacional Marítima (Maranhão), responsável pela reforma junto com a baiana Lumar, não consegue colocar mais que dois ou três ferries em tráfego, dos sete da frota.
Para o oitavo navio, o “Ipuaçu”, infelizmente o vice-governador e médico ortopedista Otto Alencar já deu o seu diagnóstico fatal: “Está condenado” – vai ser cortado e vendido como ferro velho, mesmo destino do “Gal Costa”, que o governo vendeu em leilão por apenas R$ 50 mil e que só em uma chata construída com o ferro, o arrematador faturou R$ 1,5 milhão. Um negócio da China. (Leiam em breve matéria completa sobre o “Ipuaçu”).
Para Lenise Ferreira, outras irregularidades praticadas no sistema ferryboat persistem desde que a Internacional, a empresa do Maranhão que o governo Wagner foi buscar como “solução”, aportou na Bahia e assinou um contrato emergencial de seis meses que parece ser eterno. Já se comenta que o contrato será igualzinho ao da TWB – 25 anos.
Mais sacrifício
“Querem até acabar com a tarifa social que sempre foi utilizada por usuários nos dois primeiros horários do dia e que atende aos trabalhadores e estudantes que se deslocam da Ilha de Itaparica para Salvador. Cobram tarifa diferenciada aos sábados, domingos e feriados sem nenhuma justificativa. Quando se trata de atender os interesses dos usuários, chamam a polícia e mandam descer a bordoada. Quando os usuários protestam pelos serviços ordinários, logos chegam os aparatos policiais, o que infelizmente não acontece quando são os mesmos usuários assaltados nos terminais mal iluminados, inseguros, esburacados, tomados pelo mato, lama e marginais transitando livremente”, sustentou Lenise Ferreira.
O descaso da Agerba, o órgão fiscalizador do sistema ferryboat, também é evidente. A agência de regulação, que na época da TWB ainda tinha uma atuação discreta, está completamente afastada do sistema. Seus fiscais continuam proibidos de multar a Internacional Marítima e sequer podem receber as queixas dos usuários.
“Quem está pagando a conta da incompetência é o usuário e são os empresários da Ilha, que acumulam prejuízos porque o comércio experimenta queda ano após anos devido ao caos do ferryboat. Na década de 80, o sistema tinha oito embarcações. Décadas depois, contamos com somente três. Um retrocesso total, levando-se em consideração o crescimento da população de Salvador e da Ilha de Itaparica. E ainda somos obrigados a comemorar, como quer o governo”, desabafou.
Negligência da Agerba
Para mostrar a falta de interesse da Agerba em tentar pelo menos minorar a caótica situação do ferryboat, Lenise Ferreira conta que no dia 13 de setembro passado estava marcada uma audiência no Ministério Público da Bahia, onde seria discutido a construção de um Termo de Ajustamento de Conduta, envolvendo a agência de regulação, a Internacional Marítima e representantes da comunidade da Ilha de Itaparica. A Agerba não compareceu e não deu qualquer justificativa ao MP-BA.
“A Agerba ignorou mais uma vez o apelo do usuários, da população castigada pelo ferryboat. Nós vamos continuar pagando a conta, mas nós vamos recorrer a todas as instâncias jurídicas para punir esses abusos praticados pela concessionária e pelo governo, através da Seinfra e Agerba. Enquanto houver permissividade e omissão dos órgãos estaduais e da operadora, seja ela qual for, nós vamos continuar combatendo e lutando”, garantiu Lenise.
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