REDAÇÃO DO JORNAL DA MÍDIA
Salvador – A Capitania dos Portos da Bahia vai instaurar inquérito administrativo para apurar o acidente com o ferryboat “Agenor Gordilho”, que teve a âncora rompida na barra do rio Sergipe, em Aracaju. O prazo de conclusão do inquérito é de 90 dias, segundo informa o Comando do 2º Distrito Naval, em nota de esclarecimento enviada ao JORNAL DA MÍDIA.
Na segunda-feira, o JORNAL DA MÍDIA divulgou com exclusividade matéria com o título “Internacional Marítima dribla a Capitania dos Portos e encalha ferry em Aracaju”, mostrando que a embarcação tinha perdido o ferro de bombordo (âncora) e, em consequência, acabou encalhando nas proximidades da barra do rio Sergipe.
O “Agenor Gordilho” se deslocou para Aracaju para ser decado no estaleiro H. Dantas, na localidade de Barra dos Coqueiros, em frente à capital sergipana. O navio, que tinha passado cinco meses docado em dique seco na Base Naval de Aratu para uma “reforma geral”, voltou ao tráfego dia 26 de março e quebrou diversas vezes. Nos serviços na Base, executados pela própria concessionária Internacional Marítima e pela Lumar, foram consumidos do Estado impressionantes R$ 4,97 milhões, segundo divulgou na época o vice-governador e secretário de Infraestrutura, Otto Alencar.
Sem âncora e sem motores – A nota do comando do 2º Distrito Naval diz ainda: ”Ao tomar conhecimento da reportagem veiculada pelo JORNAL DA MÍDIA, a Capitania dos Portos de Sergipe (CPSE) enviou uma equipe de Inspeção Naval e um Vistoriador Naval para inspecionar o ferryboat “Agenor Gordilho”, sendo informada pelos tripulantes que, na noite do dia 20 de agosto, antes da manobra de entrada no rio Sergipe, a embarcação permaneceu fundeada nas proximidades do Terminal Marítimo Inácio Barbosa (TMIB) e teve rompida a amarra da âncora, passando a navegar na área daquele terminal até a chegada do prático, no dia seguinte. Não foi relatada a ocorrência de encalhe da embarcação”.
A versão do encalhe da embarcação foi relatada ao JORNAL DA MÍDIA por um dos tripulantes à bordo do navio “Agenor Gordilho”. A fonte deu muitos detalhes sobre o acidente em novo contato com o JM.
“O navio foi fundeado antes da entrada do rio Sergipe. Normalmente, o fundeio de uma embarcação do porte de um ferryboat é feito em águas protegidas, o que não foi o caso. Como o “Agenor” perdeu o ferro de bombordo, começou a derivar em direção à praia, o que levou o comandante a alertar a tripulação e a acionar às pressas os motores. Até então, o ferry estava fundeado, mas encalhado, sem âncora e sem motores”, relatou a fonte do JM, que preferiu não comentar se houve ou não falha do comandante Santa Rita, designado para levar o navio a Sergipe.
Só Tem um Leme – A nota de esclarecimento do 2º DN ao JM informa ainda que a operadora Internacional Marítima apresentou documentação de obteve consentimento da Capitania dos Portos para deslocar o navio de Salvador para Aracaju. “A operadora apresentou declaração da sociedade classificadora da embarcação, emitida por engenheiro naval, atestando que o “Agenor Gordilho” possuía condições satisfatórias para a realização da viagem pretendida. A CPBA emitiu despacho autorizando o ferryboat “Agenor Gordilho” a realizar a viagem, com a ressalva de que o mesmo não poderia transportar carga ou passageiros, tampouco efetuar operações de reboque ou empurra durante esse deslocamento”, esclarece a nota.
Uma fonte do corpo funcional da própria Internacional Marítima consultada pelo JORNAL DA MÍDIA, no entanto, foi taxativa: “Um dos motivos da docagem do ferry em Aracaju é para reparar um problema de leme. Sobre esse fato, parece que a Capitania dos Portos não foi devidamente informada. Isso porque o “Agenor Gordilho” só tem um leme (com problema) e não poderia, com segurança, navegar até Aracaju”, assegurou a fonte.
Consultando os seus arquivos sobre a frota do sistema ferryboat, o JORNAL DA MÍDIA confirmou que realmente o ferry “Agenor Gordilho”, bem como o “Juracy Magalhães”, só dispõe de um leme, ao contrário das embarcações que foram incoporadas posteriormente à frota do sistema, como o Pinheiro, Gal Costa, Maria Bethânia, Mont Serrat, Vera Cruz, Ipuaçu e Rio Paraguaçu.
O “Agenor Gordilho” e o “Juracy Magalhães” foram os dois primeiros que chegaram na Bahia para o sistema, em 1972. Os documentos do construtor dessas embarcações, o Estaleiro Só, de Porto Alegre, que também integram os arquivos do JORNAL DA MÍDIA, não deixam dúvidas: os dois navios só têm um leme. Portanto, se o leme estava com problema, parece que esconderam o fato da autoridade marítima. A viagem, de acordo com fontes do setor naval também consultadas pelo JM, não poderia realmente ser feita.
Nota da Redação – O Comando do Distrito Naval cumpriu o seu papel de esclarecer à população sobre o caso. Como autoridade marítima, a Capitania dos Portos da Bahia e a Capitania dos Portos de Sergipe foram investigar o caso in loco, demonstrando mais uma vez a preocupação com a segurança das embarcações que transportam milhares de pessoas anualmente.
Caso a Internacional Marítima realmente disponha de argumentos suficientes para saber fundamentar uma resposta, o JORNAL DA MÍDIA está aberto a publicá-los na íntegra. Normalmente, a Internacional não tem argumentos para contestar nada, principalmente do JM, que conhece um pouco dessa história complicada do Sistema Ferryboat, sempre envolvido em escândalos como superfaturamento de preços, serviços deficientes dados como realizados e atestados pelo governo, entre outras irregularidades mais.
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