REDAÇÃO DO JORNAL DA MÍDIA
Apontado como responsável pela viabilização do Estádio Manoel Barradas, o Barradão, onde o Vitória conquistou 14 títulos estaduais desde 1995, Paulo Carneiro, ex-presidente, reage indignado a qualquer declaração ou até mesmo a um simples comentário de algum dirigente atual favorável a levar o clube para a Fonte Nova. Sempre polêmico, Carneiro critica a falta de ação e de projetos da atual diretoria para buscar parceiros e construir a Arena Rubro-Negro.
“Eles só sabem falar de renda de bilheteria, como se isso representasse muita coisa hoje. Falcão (Carlos Falcão, diretor do Vitória) está querendo enganar os incautos, o que é muito fácil. Ora, se você tem um ingresso com preço médio de R$ 80 e outro de R$ 30, você acha que dará mais renda onde? Na hora que você vai para Fonte Nova você ganha um upgrade na bilheteria e você perde dezenas de receitas possíveis em seu estádio”, sustenta.
Em entrevista ao JORNAL DA MÍDIA, Paulo Carneiro detona a concepção amadora dos atuais dirigentes do Vitória, critica o ato que determinou a sua expulsão do Conselho Deliberativo que, segundo ele, foi uma farsa, diz que o clube está sendo usado politicamente por Marcelo Nilo e Otto Alencar com o objetivo de agradar ao governador Wagner e assegura que a distância entre o Vitória vai se distanciar cada vez mais dos grandes clubes se não construir a sua arena.
Jornal da Mídia – Depois que você saiu do Vitória, pouca coisa foi feita no Barradão. Melhorias na infraestrutura, vias de acesso, a Transalvador que não colabora… Enfim, o torcedor reclama muito…
Paulo Carneiro – Eu costumo dizer que a gente não passou um ano no clube sem inaugurar uma obra no Barradão. Eu tinha um projeto de construir uma arena para o Vitória, o mesmo projeto da arena que o Corinthians vai inaugurar em dezembro. Eu tinha o projeto e o alvará de construção. Eu tinha uma pesquisa que dizia que, na época, o Barradão não era o lugar ideal para abrigar uma arena. Mas isso mudou muito ao longo dos últimos oito anos. Com esses projetos de vias estruturantes de Salvador, o Barradão aflora no meio dessas vias, tornando-o totalmente viável. É uma área privilegiada hoje na cidade. Uma arena só funciona com vias de acesso, não tem outro caminho. Pode ser o melhor projeto, só funciona com vias de acesso. E as vias estruturantes vão chegar e o Barradão estará no meio delas.
JM – Mas essa coisa polêmica, Paulo, de os próprios diretores do Vitória reclamarem da ausência da torcida no estádio, de ficar acenando para levar o clube para a Fonte Nova, qual a sua opinião?
Paulo Carneiro – O que eu discuto nessa questão da Fonte Nova é que o Vitória é o único clube da Bahia que tem estádio próprio, não é verdade? Então, ele não pode perder o privilégio de jogar em casa, no patrimônio construído por rubro-negros. Não foi só Paulo Carneiro. Construído inclusive por José Rocha (presidente do Conselho Deliberativo), que agora estranhamente se cala. Ele que sempre defendeu o Barradão, que um dia esteve visitando o nosso estádio em minha companhia, e percebi as lágrimas. Sei que o deputado é um rubro-negro, mas ele está sendo covarde ao dizer que está sendo atacado por essa polêmica envolvendo o Barradão e a Fonte Nova. Ele está se acovardando. Quando ele saiu do Vitória, o Barradão ainda era um entulho, mas sempre achei que José Rocha deu a sua contribuição. Muitos rubro-negros deram.
JM – Mas o próprio Carlos Falcão afirmou diversas vezes em entrevistas e inclusive na reunião do Conselho Deliberativo, que na Fonte Nova o Vitória ganha mais…
Paulo Carneiro – Você não pode comparar coisas diferentes. É isso que as pessoas precisam entender. Você não pode pensar em bilheteria. Aqui não se discute que na Fonte Nova o Vitória ganha mais do que no Barradão. Quem não sabe disso? Não é preciso o ‘’mágico’’ das finanças do Vitória, o Falcão, que esconde as dívidas do clube numa salinha em Lauro de Freitas, onde fica o Vitória SA, falar isso. O que eu quero discutir é que se você assina um contrato desse com a Arena Fonte Nova, como quer o Carlos Falcão, o clube vai ficar engessado. Se você assina um contrato com essa dupla de empreiteiros (OAS-Odebrecht) que nos orgulha muito como construtores, você está enterrando o clube, porque o Vitória vai deixar de ter acesso às inúmeras receitas de uma arena sua, que o clube tem todas as condições de fazer.
Não concordo com essa coisa política dentro do Vitória. O clube está sendo usado e não podemos permitir isso. Está sendo usado por Marcelo Nilo, por Otto Alencar, querem agradar a Wagner, levando o clube para a Fonte Nova.
JM – Que projeção em termos de faturamento você estimaria para o Vitória com uma arena?
Paulo Carneiro – O caso do Corinthians é emblemático para que todos possam entender o nosso ponto de vista. O Corinthians vai ter um faturamento inicial de R$ 150 milhões a R$ 200 milhões/ano com a sua arena, fora bilheteria. Repetindo, fora bilheteria. Vamos esquecer o potencial de faturamento do Corinthians e pensar em um faturamento de R$ 100 milhões para o Vitória. Vamos falar de R$ 80 milhões, de R$ 50 milhões/ano. Pois bem, o Vitória deixará de ter acesso a esse faturamento de R$ 80 milhões/ano. Quanto isso representa em cima de 35 anos de um contrato com a Fonte Nova, contrato para engessar o Vitória? Quase R$ 3 bilhões.
JM – Você acredita que a diretoria do Vitória vai ceder?
Paulo Carneiro – Se eles assinarem contrato vão cometer um crime de lesa-pátria contra a instituição Esporte Clube Vitória. É contra isso que luto, que todo rubro-negro luta. Eu nem entro nessa discussão rasteira de bilheteria, porque Falcão está querendo enganar os incautos, o que é muito fácil. Ora, se você tem um ingresso com preço médio de R$ 80 e outro de R$ 30, você acha que dará mais renda onde? Um estádio que ainda é novidade, próximo de sediar jogos de Copa do Mundo? E se você botar o Barcelona para jogar 3 horas da manhã na Fonte Nova vai encher também. Mas nem essa discussão eu quero fazer. Minha discussão é do negócio. Na hora que você vai para Fonte Nova você ganha um upgrade na bilheteria e você perde dezenas de receitas possíveis em sua arena. O Corinthians tem 15 parcerias só com o nome do estádio. Só na área de comunicação já fechou 30. O Corinthians terá cerca de 60 parceiros. O clube é dono de 100% do estádio – tem o fundo imobiliário garantido pela Odebrecht e na hora que ele acabar de pagar esse fundo, fica dono de tudo. Só que o Corinthians vai faturar o dobro que o fundo fatura por ano. Vai ser o clube de maior receita do mundo em pouco tempo.
JM – Você acha mesmo que Alexi Portela e Falcão estão sendo pressionados por políticos?
Paulo Carneiro – Na verdade, estamos assistindo a essa visão medíocre e amadora dos dirigentes do clube, querendo a Fonte Nova. Por que isso? Para agradar a Marcelo Nilo, que quer agradar a Jaques Wagner. Para agradar também a Otto Alencar, que também quer ser governador. E fica lá todo mundo sentadinho no colo deles. Paulo Carneiro não senta no colo de ninguém, principalmente de homem. Eles todos me conhecem. Marcelo Nilo é conselheiro porque foi eu que o coloquei, é meu amigo. Aqui a relação não tem nada a ver de pessoal. Mas não concordo com essa coisa política dentro do Vitória. O clube está sendo usado e não podemos permitir isso. Essa é a luta da torcida, a nossa luta. .
JM – Como o Vitória realmente poderia viabilizar a sua arena?
Paulo Carneiro – Eu estou pronto para ajudar o Vitória a fazer a sua arena, para levar o orçamento do clube de R$ 60 milhões para R$ 200 milhões/ano. Se me derem autonomia eu monto esse negócio para o Vitória. Sei onde buscar os investidores, sei como fazer o projeto, porque eu estudo isso há 13 anos. O Vitória iria ter a primeira arena para a Copa do Mundo, já em 2007. O Falcão sabe disso porque ele assistiu em 2003 palestra do atual arquiteto da arena do Corinthians para os conselheiros do Vitória. O que os dirigentes do Vitória querem fazer é um retrocesso. Deixar de investir no seu negócio para ser inquilino no negócio dos outros! Isso é um crime e todos os rubro-negros têm que continuar reagindo e lutando. É um crime contra o futebol da Bahia.
JM – Quanto vale a área do Barradão, muito cobiçada diante desse mercado de construção cada vez mais concorrido, com áreas disputadas como nunca se viu antes?
Paulo Carneiro – A área do Barradão vale uma fortuna hoje, coisa de R$ 100 milhões. Se você tira o Vitória de lá, você pode fazer um negócio de R$ 100 milhões. Eu fazia diferente. Aproveitando as vias estruturantes que vão ser construídas, eu pegava aquela área e iria trabalhar em um grande projeto de entretenimento ancorado ao estádio. Ali tem um bairro, um bairro chamado Vitória. Eu construiria a Arena Rubro-Negra e levaria o centro de treinamento para outra área da cidade, mais afastada. CT não é lugar para a torcida ir, mas lugar de trabalho. E transformaria o Barradão no lugar para o Vitória ganhar dinheiro. Um projeto de entretenimento naquela área dos campos de treinamento seria um sucesso em uma cidade onde se respira shows, eventos, convenções.
JM – Mas a Arena Fonte Nova também pode abrigar shows…
Paulo Carneiro – Não se faz eventos em gramado de arena como a Fonte Nova está fazendo ou vai fazer. Isso é uma falha de projeto imperdoável, grotesca. O projeto da Fonte Nova é ruim, abafado, quente, sem circulação de ar, de péssimo acabamento. Estou falando porque sou engenheiro. Agora, é um estádio acolhedor, você fica perto do campo, uma maravilha. Só que estou falando do negócio arena, que envolve mais de 40 receitas e não da bilheteria de jogos como é a Fonte Nova. Aliás, estou falando de todas as receitas e não da bilheteria. O Corinthians está fazendo um negócio fantástico. Os ingressos em sua arena terão preços populares (clube anunciou R$ 40). A arena do Corinthians terá telão fora do estádio, em todo o entorno, para o torcedor que não comprou ingresso assistir aos jogos. Fui convidado pela diretoria do Corinthians para conhecer o estádio e fiquei feliz porque de alguma forma eu participei daquele projeto.Enquanto isso, o Falcão faz o que? Monta planilhas em Power Point para explicar que o Vitória ganha mais dinheiro na Fonte Nova, repito, na bilheteria, esquecendo do futuro do clube, que é a sua arena. Se o Vitória continuar pensando assim, vai ficar cada vez mais distante dos grande clubes. Bilheteria representa pouco.
JM – O orçamento do Vitória cresceu muito nos últimos anos. Você concorda?
Paulo Carneiro – Essa receita que o Vitória tem hoje, de R$ 60 milhões, não foi Falcão que fez não, isso é mentira de político em véspera de eleição. A receita é procedente da TV. Foi eu que coloquei o Vitória no Clube dos 13. Sabe quando é que a gente vai ser campeão brasileiro em campeonato de pontos corridos, se não for tomada uma providência com nível empresarial? Nunca. Precisamos aumentar a receita e não é ir para a Fonte Nova atrás de bilheteria que o clube vai crescer. Por mim o Vitória nunca jogaria uma partida lá.
JM – E o Bahia acabou não resistindo e assinou contrato com a Arena…
Paulo Carneiro – Marcelinho Guimarães sabe e confessou que o Bahia precisa ter o estádio dele. Mas tomou pressão para jogar na Fonte Nova. Pressão grande.
JM – E pressão também para tirar o Bahia de Pituaçu….
Paulo Carneiro – “Isso aí se fosse com o Vitória, eu presidente do clube, Jaques Wagner não fazia não. Mas não fazia mesmo. Eu queria ver ele fazer. Eu botava a torcida do Vitória toda na frente de Pituaçu, eu queria ver ele fazer. E fechava aquele Centro Administrativo. O estádio não é do governador, é um patrimônio público. Wagner não tem poder sobre Pituaçu. Mas a pressão foi terrível em cima de Marcelinho.
JM – Qual o perfil para ser presidente do Vitória…
Paulo Carneiro – Eu acertei muito e errei no Vitória. Ainda não enxergamos esse nome para ser presidente do Vitória, mas estamos procurando. Temos um grupo político e eu não decido nada fora disso. Tem um outro grupo também que é de Fábio Mota, no meio daqueles caras que me traíram, Rodolfo Tourinho, Albérico Mascarenhas, Ademar Lemos. Esses nunca fizeram nada no Vitória. O Ademar era presidente e não ia nem no clube, Rodolfo Tourinho gostava de aparecer na mídia, mas nunca trabalhou, apesar de ter me ajudado na implantação da avenida Artêmio Valente, tenho que ser justo. Mas todos me traíram. São traíras.
JM – E você tem planos pessoais para voltar a ser presidente, acha que ainda tem espaço para isso?
Paulo Carneiro – Sai do Vitória em setembro de 2005. Não tenho projeto hoje para voltar a ser presidente, não trabalho para isso. Existem muitas pessoas que querem que eu volte, percebo que estou sendo cada vez mais lembrado, apesar de não fazer apologia ao meu trabalho no Vitória. Vocês não me vêem na mídia. Eu uso as redes sociais muito mais para me defender do que para me promover e faço isso porque cansei de ser atacado por dois cronistas aqui da Bahia de forma gratuita, a partir da minha saída do Bahia, quando os ataques se aceleraram e eu tinha que me defender. Como eu não tinha espaço na mídia passei a usar as redes e hoje tenho milhares de seguidores. Foi a forma que encontrei para me defender. Agora, se você me perguntar se eu posso voltar mais adiante a ser presidente do Vitória, eu digo que sim, que é claro que eu posso voltar. Talvez eu seja a pessoa que tem mais direito a isso. Infelizmente eles fizeram uma molecagem comigo quando criaram uma pantomima (farsa) e me expulsaram do conselho. Foi uma grande palhaçada, uma coisa que a mídia covardemente silenciou. Ninguém nunca apurou isso.
JM – E como é que aconteceu mesmo a sua expulsão do Conselho?
Paulo Carneiro – O Estatuto do Vitória de 1998 foi reformado por eles. Por Juarez Wanderley, um dileto amigo meu e por esse rinoceronte que tem lá no Vitória (Raimundo Viana). Esse que foi um dos piores presidentee de todos os tempos da Federação Baiana de Futebol, os mais velhos sabem disso. Basta lembrar das constantes crises da FBF. Aliás, foi ele quem deu o hepta campeonato ao Bahia. Não devemos esquecer que ele era um rubro-negro que entregava os títulos ao Bahia, justamente na geração do pai de Alexi. E hoje trabalha com Alexi, o filho. Um negócio assim que eu não consigo entender. É esse senhor hoje, com mais de 80 anos, quem está preparando o ‘’Vitória do futuro’’, construindo o estatuto do clube. Existem coisas no Vitória que fogem da minha mediana percepção. Apesar dessa palhaçada que criaram, eu posso voltar.
JM – Como está esse processo hoje?
Paulo Carneiro – Está na Justiça. Eu preferi ir à Justiça para dar legitimidade. O estatuto do Vitória de 98 é claro e não prevê expulsão de conselheiros, muito menos de um conselheiro nato. Eu sou nato. O estatuto prevê perda de mandato após investigação e processo, cabendo até o direito de se recorrer à Justiça, que é um direito de qualquer cidadão. Um conselheiro pode perder o mandato mas ser expulso nunca. Eu fui expulso em março de 2009 e estava em curso uma legislatura, que estipulava mandato até 2010. Fui expulso, portanto, no meio do mandato. Não vou entrar no mérito da perda do mandato, se eles tivessem decidido assim. Eu teria amplo direito de defesa nesse aspecto. O Conselho do Vitória aprovou a perda de mandato e nunca a expulsão. E como eu sou conselheiro nato, na próxima legislatura meu mandato seria restaurado. Eu sou vitalício. Eu perdi um mandato de três anos. Portanto, nessa legislatura que se encerra neste final de ano eu sou conselheiro nato. Portanto, poderia ser candidato a presidente do Vitória se eu quisesse. E eu iria para a Justiça de novo, discutir a prerrogativa de ser candidato a presidente se eu quisesse. Essa é uma explicação fática, não é de argumento. Quem quiser duvidar, basta ler o estatuto e conferir se eu tenho ou não razão. Aliás, o próprio Alexi Portela sabe disso. Ele foi informado pelo nosso amigo em comum Ricardo Neri. Ele sabe que eu sou conselheiro. Eu nunca fui expulso porque o estatuto não prevê expulsão.