LUÍS AUGUSTO GOMES
De uma instância como a Presidência da República se esperam decisões e iniciativas que, quando nada, demonstrem a segurança com que estão sendo tomadas – afinal cabe ao líder máximo da nação a tarefa de, com suas atitudes, infundir confiança na sociedade que o elegeu.
Não foi o que deixou transparecer com a reação às manifestações de rua a presidente Dilma Rousseff, que, aparentemente sem medir consequências, anunciou medidas de alto impacto – constituinte e plebiscito – e delas teve de recuar, ainda que, quanto à segunda, haja certo esperneio.
Os fracassos iniciais não arrefeceram o ímpeto da presidente, de natureza tida como difícil, o que não combina com inexperiência política. Ela diz que não está “acuada” e que vai “defender o legado” dos governos do PT, para isso convocando as organizações sindicais amigas para a sua versão de movimento popular.
A ira dos indignados merece mais respeito – O que talvez não tenha sido assimilado pela assessoria e pelos conselhos que cercam a presidente é que está falido o modelo de levar entidades embandeiradas às ruas para atestar força política, e não é de agora, pois nos últimos anos seus “atos públicos” vêm tendo como atrativos apenas shows musicais e sorteio de prêmios.
Essa turma não vai ocupar rua nenhuma, mesmo porque tem tentado, sem êxito, nos últimos anos. Cadê as multidões para “desmontar” o mensalão? Cadê as massas solidárias a Lula no escândalo de Rosemary? A discrição, neste momento, seria até recomendável, para não despertar a ira dos verdadeiros indignados.
Lula angariou “apoio” popular enquanto esteve no poder, quando levou ao extremo a política assistencialista, mas o que o colocou no poder, de fato, foi a aliança dos trabalhadores mais qualificados do país com a intelectualidade, estudantes, Igreja Católica, militantes da reforma agrária e partidos revolucionários de esquerda, que o rejeitam, exceto o PCdoB, hoje apenas uma sigla.
Sintomas são de esvaziamento do governo – Ao buscar “fora dos partidos” um novo caminho, em manobra para a qual convida entidades do ativismo social, como o Movimento Contra a Corrupção Eleitoral e outras de representatividade institucional formal, como a OAB, Dilma apenas permite aos observadores concluir que seu governo está em vias de extinção.
A concorrer para esse fim, dois sintomas se expõem sem o menor pudor: a instabilidade de base parlamentar no Congresso e a indefinição de futuras alianças que possam dar mais crédito a um projeto de reeleição – a situação clássica dos ratos que abandonam o navio.
Com os números da economia no rumo negativo, a tendência é o agravamento do quadro, ameaçando a única tábua de salvação restante, aliás, proclamada como a principal sustentação de índices de popularidade desde os tempos de Lula.
A eventualidade de uma inflação progressiva significará mais pressão na insatisfação popular com a situação, que, em última análise, é responsabilidade do governo e dos governantes. (Por Escrito)