LUÍS AUGUSTO GOMES
Para que se veja quanto é difícil a mobilização de massas conseguir resultados eficazes e duradouros no campo político, tome-se o exemplo do Egito, que fez uma revolução, derrubou um presidente vitalício e agora está às voltas de novo com o problema, tentando tirar o presidente eleito pelo povo.
No caso do Brasil, a situação é muito mais complexa porque não existe, de fato, um alvo preciso. Como se notou nas manifestações, setores diversos lutam e esperam por diversos objetivos e conquistas, o que obriga a uma generalização: estamos insatisfeitos com tudo, sendo impossível uma transformação real sem traumas que terão de ocorrer.
Estamos cansados, sim, dos maus serviços prestados à população em áreas essenciais da vida, mas estamos muito mais que isso, além mesmo dos limites da indignação, com o espírito que preside essas anomalias, gerador dos privilégios, da corrupção e, sobretudo, da impunidade.
No entanto, não há espaço para ilusão. Sob intensa pressão popular, em certos casos até com atos de violência, que hoje vemos não terem sido de “uma minoria”, como se pretende fazer crer, os congressistas brasileiros se mexeram um pouco. Arquivaram a PEC 37, tornaram a corrupção um crime hediondo e agora aprovaram a destinação integral do royalties do petróleo à educação e à saúde.
Mas a verdade é que seria “fácil” engolir um sistema deficiente de saúde em postos e hospitais ou uma educação em frangalhos, se isso fosse da carência do país. Doloroso e insuportável é ver a injustiça que dá aos pobres o rigor da lei e garante a liberdade e o usufruto aos praticantes de crimes contra a administração pública.
Pais tem um ano para resgatar instituições – A toda uma complexidade político-social, o governo responde, até agora, com propostas lastreadas no marketing e que nem mesmo têm embasamento constitucional para se concretizarem.
Um governo – vale frisar – que não está sob ameaça de deposição, apenas sob o risco, que poderá ser inevitável, de não se reeleger.
Teremos, nos próximos 12 meses, todo o combustível do mundo pairando sobre o Brasil, com a perspectiva das eleições gerais e da Copa do Mundo.
Por isso, a menos que se deseje que um projeto de caos se instale no país, é preciso uma ampla revisão da eficácia institucional, porque a tendência é de agravamento do quadro e, realmente não se deve brincar com fogo num momento desses. (Por Escrito)