LUÍS AUGUSTO GOMES
Um efeito prático dos novos tempos políticos na Bahia: o uso de força policial para dispersar uma manifestação que bloqueava o tráfego na Avenida Paralela.
Esses tumultos, que atingem o direito das pessoas e prejudicam gravemente a vida da cidade, jamais, em seis anos e cinco meses de governo Wagner, tinham sido reprimidos de forma tão espetacular.
A medida foi pedida pela Prefeitura há poucos dias, através do secretário José Carlos Aleluia, e acatada na primeira oportunidade pelo governo do Estado, que pôde compatibilizar seu dever de intervir com o desejo de não ser criticado.
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Wagner e Neto fumam duvidoso cachimbo da paz – A Bahia assiste a um verdadeiro happening entre suas principais lideranças – o governador Jaques Wagner e o prefeito ACM Neto –, como se um Woodstock político tivesse se instalado entre nós.
Vivemos dias de paz e amor, de liberdade total, por que não dizer libertinagem, pois, para quem guarda certos pruridos do passado, as cenas explícitas de louvação, abertura para o diálogo e ameaça de aliança eleitoral chegam às raias da imoralidade.
Mas não é nada disso. Nenhum dos atores dessa grande montagem está sob o efeito psicodélico que tomou conta dos participantes do histórico festival musical na cidadezinha norte-americana. A droga deles é outra: a necessidade imediata.
Candidatos comuns é destino improvável – É sabido que Wagner não queria Neto no poder, como não havia querido João Henrique, com o agravante de ter-se eximido da parte de responsabilidade que lhe cabia pela capital. A derrota eleitoral mostrou isso, e o governador compreendeu que não poderia mais esticar discretamente a corda, como é de seu estilo.
O prefeito não tem dúvida do alto grau de dependência que o Município apresenta em relação ao Estado e à União, e desde o início procurou, como autodefesa, realçar justamente essa linguagem institucional, que sugere os entes federados como co-partícipes de todo progresso para a sociedade.
Na medida em que o antigo adversário empunha a guitarra e dá um acorde muitos tons acima, em que se tem o despudor de falar até em coligação, o outro, já na malemolência do sambista, dá seus passos. Entretanto, é difícil que venham a afinar-se quanto a candidatos a governador e presidente, como se insinua. (Por Escrito)