Em qualquer país que não fosse uma república de bananas, um episódio como o rompimento da cobertura da Fonte Nova por acúmulo de água já teria determinado a interdição do estádio e uma investigação técnica rigorosa para que fosse novamente liberado ao acesso do público.
O governador Jaques Wagner, maior autoridade do Estado e, por consequência, maior responsável pela segurança de seus cidadãos, apenas reconheceu que “aquilo não podia acontecer” e que “água só empoça em telhado mal feito”, mas não anunciou qualquer medida preventiva ante tal constatação.
Está claro que, incrivelmente, falam mais alto nessas horas os interesses empresariais. A Fonte Nova Negócios e Participações, pelo diretor de Engenharia, José Luís Góes, minimiza o incidente e o atribui a “falha humana”, garantindo não ser “nada ligado a um problema estrutural”.
O governo, pelo lado político, teme que vá, literalmente, por água abaixo o único “legado da Copa” entre tantos com que se comprometeu. O consórcio OAS/Odebrecht luta para manter sua fonte de lucro, já neste início gravemente abalada pela crise do Esporte Clube Bahia.
Nenhum dos dois quer enxergar o óbvio: a massa d’água que desabou de cerca de oito metros de altura sobre parte das arquibancadas do estádio pesa toneladas, pois foram milhares de litros. Destruiu ou causou danos em pelo menos 30 cadeiras, ou seja, se fosse em dia de jogo, poderia ter ocorrido mais uma tragédia anunciada.
Consórcio nega erro de projeto desde o início – A possibilidade de ter havido um erro de projeto na cobertura, inclusive retardando em dois meses a instalação, foi levantada por este blog em matéria de 5 de janeiro, intitulada “Fonte Nova seria coberta com ‘armengue’”.
Citando uma “fonte intimamente ligada ao empreendimento”, o texto se referia ainda à inviabilidade de nova encomenda à fabricante mexicana a tempo da Copa das Confederações, programada para junho.
Dois dias depois, o consórcio construtor encaminhou e-mail a este blog em que não desmentia nenhuma das informações, limitando-se a elogiar a tecnologia empregada na fabricação e a utilização de equipamentos similares na Polônia, Argentina e mesmo no Brasil – casos do Maracanã e do Mané Garrincha. (Por Escrito)
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