Herdeiro de Hugo Chávez diz que “direção coletiva” do chavismo está unida, defende Forças Armadas na política e afirma que TVs públicas têm que educar para a revolução. Em campanha para a Presidência da Venezuela, ele diz que o país enfrenta uma ‘guerra econômica’ e que se inspira na ‘ética’ e na liderança de Lula.
“Enfrentamos a desaparição física de nosso comandante eterno. Vamos defender esta revolução, o legado de Chávez. Preciso do apoio de vocês, desta linda e gloriosa família de Chávez.” E o público: “O povo unido jamais será vencido!”.
“Vocês querem o capitalismo?”, perguntava. “Nããão”, respondia a multidão. “Vocês decidem se querem Nicolás Maduro, um filho de Chávez, ou o burguesinho que entrega a pátria!”, dizia, referindo-se a Capriles. “Volta para a sua mansão em Nova York, burguesinho caprichoso. Vou te derrotar com a ajuda desse povo glorioso.”
No fim, Maduro ergue a mão: “Juro…”, grita ao microfone. A população imita o gesto. E repete: “Juro…”. Segue ele: “Cumprir os ditames do nosso comandante Chávez…”. A multidão ecoa, em uníssono.
Ex-motorista de ônibus, sindicalista, era deputado e presidente da Assembleia Nacional da Venezuela, em 2006, quando Chávez o escolheu para ser o chanceler do país. Foi pego de surpresa. Juntou assessores, abriu o mapa-múndi e disse: “O mapa de Caracas eu conheço perfeitamente. Agora tenho que conhecer este aqui”.
É casado com a advogada Cilia Flores, nove anos mais velha e militante de destaque no chavismo: ela também presidiu a Assembleia Nacional e foi procuradora-geral da República. Têm um filho, o flautista Nicolás Ernesto, e um neto.
À Folha Maduro disse não acreditar que a oposição chegue algum dia ao poder na Venezuela “no século 21”. Afirmou que os meios de comunicação públicos têm que “educar o povo para a revolução”, defendeu a participação das Forças Armadas no processo político e disse que o socialismo venezuelano prevê uma iniciativa privada forte no país.
Apoiado por Lula, que enviou a ele um vídeo para ser usado na campanha, Maduro reagiu às declarações de seu opositor, que diz ter o governo do ex-presidente do Brasil, capitalista mas que combate a pobreza, como modelo. “Lula para nós também é um pai.”
Folha – Como será o chavismo sem Chávez, que era formulador, estrategista e porta-voz do governo?
Nicolás Maduro – O presidente Chávez fundou um movimento revolucionário e de massas na Venezuela. Deu a ele uma ideologia e uma Constituição. Nosso processo revolucionário está constitucionalizado. Ele nos dotou de um corpo de doutrinas e de princípios. Nos deixou um testamento político, o programa da pátria, com objetivos de curto, médio e longo prazos. E promoveu um nível de participação e de protagonismo das amplas maiorias como nunca se viu na história da Venezuela. Estamos preparados para seguir fazendo a revolução. Ele formou um povo. Nos formou para um projeto.
Mas 44% dos venezuelanos, que votaram na oposição nas eleições presidenciais de 2012, não estão de acordo com esse projeto. E se, agora ou no médio prazo, vocês perderem uma eleição?
Nós aceitamos todas as eleições que perdemos. A Venezuela tem governadores e prefeitos de oposição. Tem deputados, 40% do Parlamento. Se algum dia ganharem, coisa que eu duvido que se passe no século 21, bem, ganhariam e assumiriam a Presidência. E teriam que ver o que fazer com o país. A Venezuela tem um povo consciente e bases sólidas de país independente em vias do socialismo.
Vocês falam muito de unidade. Mas há vários grupos no chavismo. Não pode ocorrer um racha, como houve com o peronismo na Argentina?
O movimento revolucionário nacional está unido ao redor da imagem, da espiritualidade e da ideologia de Chávez. De um projeto de pátria. Pátria grande. Está unido ao redor de uma direção coletiva que ele construiu. E ao redor da designação do comandante Chávez da minha pessoa como condutor da revolução para essa etapa. Estamos unidos.
Sem a liderança incontrastável de Chávez, haverá alternância na liderança do chavismo?
Nem um “pitoniso”, um bruxo, um vidente, ninguém pode saber o que nos reserva o destino. O que te digo é que neste momento histórico estamos solidamente unidos. E o mundo deve saber que essa direção coletiva já passou por várias provas de fogo. Estamos prontos para a vitória em 14 de abril e para governar muito bem o nosso país.
Na Venezuela, canais privados de televisão fazem campanha para o candidato de oposição à Presidência, Henrique Capriles. (Mônica Bergamo/Folha de São Paulo)