Quase metade dos médicos em atividade no Brasil não possui um título de especialista, que é emitido por sociedade de especialidade ou obtido com a conclusão de residência médica. Segundo dados divulgados nesta segunda-feira pelo Conselho Federal de Medicina (CFM), as regiões do país que concentram o menor número de profissionais, como a Norte e a Nordeste, são as mesmas que possuem menos médicos especializados. O CFM considera esse dado “preocupante”, já que, mesmo sem nenhuma especialização, os médicos podem exercer qualquer ramo da medicina, o que acaba expondo a população a um atendimento menos qualificado.
Esses números fazem parte do estudo Pesquisa Demografia Médica no Brasil 2: Cenários e Indicadores de Distribuição, desenvolvido pelo CFM em parceria com o Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo (Cremesp). De acordo com o levantamento, dos 388.015 médicos do país, 180.136 deles, ou 46%, não têm especialidade. Se excluídos os profissionais mais jovens, que ainda não ingressaram ou não concluíram o curso de especialização, e os mais velhos, que desistiram de tentar uma vaga em residência médica, restam ainda 88.000 médicos sem especialização — 22% do total de profissionais no país.
Segundo Desiré Callegari, conselheiro federal e diretor de comunicação do CFM, a legislação do Brasil permite que qualquer médico graduado, mesmo sem ter feito residência médica, exerça qualquer especialidade médica. “Esses médicos que, por algum motivo, não obtêm especialização costumam ir para áreas da medicina que necessitam de mais profissionais, como na atenção primária de saúde ou nos atendimentos de urgência ou emergência”, disse Callegari ao site de VEJA. “A população acaba sendo exposta a profissionais menos experientes e qualificados nesses atendimentos. O médico exerce a sua profissão com pouca experiência em relação a diagnósticos e orientações de tratamentos, por exemplo.”