Colunista da versão online da Veja, Reinaldo Azevedo republicou na noite de quarta-feira, 6, o texto no qual afirma que Oscar Niemeyer, morto minutos antes do post ir ao ar, era “metade gênio e metade idiota”. Produzida originalmente em 2006, quando o arquiteto completou 99 anos, a análise do jornalista – em relação à visão política do responsável por projetar Brasília – foi alvo de ataques nas redes sociais.
Ator da TV Globo que interpretou o morador do lixão Nino, em ‘Avenida Brasil’, José de Abreu foi um dos que usaram a internet para criticar o jornalista da Veja. “Reinaldo Azevedo, 100% idiota”, escreveu em seu perfil no Twitter. Também no microblog, a repórter da Carta Capital, Cynara Menezes, mencionou como parte da imprensa internacional se referiu ao arquiteto centenário. “Niemeyer na imprensa internacional: ‘gênio’, ‘clássico’, ‘símbolo’. Aqui um otário que tem espaço na maior revista do país o chama de ‘idiota’”.
Em contato com o Comunique-se, o autor do texto diz que não esperava a repercussão do assunto, por se tratar de um post simples, além de não trazer nada de novo em relação ao artigo publicado cinco anos atrás. “Foi um texto banal, bobo, simples. É uma falsa polêmica. Apenas resgatei o que tinha escrito sobre o Niemeyer quando ele completou 99 anos”, relata Azevedo. No trecho republicado nesta semana, o jornalista cita que o arquiteto tinha “o principal desvio de caráter dos comunistas: o oportunismo nos meios com o totalitarismo no fim”.
Sobre as críticas que recebeu, Azevedo prefere não falar diretamente em nomes de veículos e de profissionais que o criticaram. Ele, porém, comenta que já está acostumado a ser personagem em campanhas difamatórias realizadas na web. “Evidentemente, há setores do subjornalismo que são ligados ao PT e ao José Dirceu. E eles usam esse espaço da internet para atacar”, avalia ao citar o ex-ministro condenado pelo Supremo Tribunal Federal (STF) no julgamento do mensalão.
O blogueiro da Veja.com ainda chama a atenção para a diferença da repercussão do texto republicado após a morte de Niemeyer com a versão original. Azevedo avalia que há uma cultura em que mortos não podem ter seus trabalhos e opiniões avaliados de modo negativo. “É uma tolice. Também fiz um texto assim que o Michael Jackson morreu. Existe, no país, uma cultura de quando a pessoa morre a conduta dela torna-se impoluta. Não se pode fazer críticas. Não é assim na vida e não pode ser assim na morte”.
Criticado sem ser lido. É assim que Azevedo se sente em relação a alguns comentários que recebeu. No texto sobre Niemeyer, o jornalista argumenta que a “metade gênio” era justamente devido ao trabalho como arquiteto, mas que teve leitor que não entendeu isso. “Além de me criticar, de falarem que o Niemeyer era excelente arquiteto, exatamente o que eu disse, teve gente que escreveu o nome dele errado. Vi até ‘Niemayer’, com ‘A’”. Por outro lado, Azevedo afirma que, até por meio de sua página, é perceptível que o texto teve grande aceitação. “Há milhares de pessoas concordando comigo”.
A voz da Veja? Não só em relação à “metade idiota”, mas também em outas ocasiões, uma questão que incomoda Azevedo é ver sua opinião em determinados temas ser elevada, por parte dos críticos, a posicionamento oficial da publicação da Editora Abril. “Nesse caso, por exemplo, nem sei o que a Veja vai escrever sobre o Niemeyer. Se vão dar ou não ênfase ao lado comunista dele”, diz ao comentar casos em que sua análise se opõe à da revista. “A legalização do aborto de fetos anencéfalos: fui e sou contra, a Veja mostrou-se favorável”. (Anderson Scardoelli, do Comunique-se)