Sai um presidente apagado, entra um líder carismático e popular. É assim que os chineses avaliam a transição política que chega ao fim com a nomeação do novo secretário-geral do Partido Comunista, o vice-presidente Xi Jinping.
A posse oficial como presidente será em março, durante a sessão anual do Parlamento, mas desde já Xi começa a governar com o apoio do Comitê Permanente do Politburo, tendo como primeiro-ministro outro vice-presidente, Li Keqiang.
“Xi é seguro, tem confiança em si e muita habilidade”, opina o ex-secretário de Estado americano Henry Kissinger. Esta semana, no jornal “China Daily”, o diplomata apostou na “transformação da China num país mais aberto na Presidência de Xi”. Mas o que pensam os chineses do novo líder? Ao contrário de Hu, distante e sério, Xi Jinping é popular e desperta simpatias “por causa da corpulência, do rosto redondo, da voz grave e sonora e do sorriso”, como assegura Lu Shan, fotógrafa da agência Xinhua. Outro fator de popularidade é Peng Liyuan, a esposa, cantora de música folclórica e óperas revolucionárias, cujos trajes coloridos fazem muito sucesso.
Habilidade e carisma são qualidades que explicam o motivo de sua ascensão ao topo, aos 59 anos. Mas não são as únicas. O novo presidente tem um pedigree político que o predestinava a comandar a segunda maior economia do mundo pois é um típico “filho de príncipe”, com origens enraizadas nos círculos mais fechados e poderosos da China, a aristocracia vermelha, as famílias históricas dos companheiros de Mao Tsé-Tung e Deng Xiaoping, qualificados de “os oito imortais”, dos quais seu pai, Xi Zhongxun, fazia parte.
O jovem passou uma infância agradável em Zhongnanhai, bairro da Cidade Proibida onde moram os dirigentes chineses. Frequentou escolas da elite e teria trilhado o caminho normal de um princeling se o pai não tivesse sido demitido por Mao Tsé-Tung durante a Revolução Cultural. Começaram então os anos de chumbo e ele foi obrigado viver num vilarejo obscuro da província de Shanxi, a maior produtora de carvão do pais. Durante sete anos, trabalhou numa granja, lavou porcos, ajudou a construir estradas e, apesar de tudo, aderiu ao Partido Comunista em 1974.
“A adesão foi por oportunismo”, afirmam os inimigos. E de fato, uma nota da embaixada americana publicada pelo WikiLeaks afirma que Xi quis “ser mais vermelho que os vermelhos para sobreviver”. Após a adesão, estudou na Universidade de Tsinghua, onde obteve o diploma de engenheiro químico. Isso lhe abriu as portas do Ministério da Defesa, onde foi nomeado chefe de gabinete do ministro, um amigo de seu pai. O cargo permitiu que ele estruturasse uma rede de relações e influência junto ao Exército, o abre-te sésamo da vida social chinesa, o célebre guanxi.
Xi seguiu o caminho dos diplomados que fazem carreira no partido: depois de passar pelas províncias de Hebei e de Fujian, foi admitido, em 2002, no comitê central do partido. Em 2006, foi indicado para o Comitê Permanente do Politburo, e desde 2010 ocupa a vice-presidência e a poderosíssima Comissão Militar Central.
A competência administrativa e o senso político explicam o apreço da maioria dos chineses. Mas há outros fatores: ele é craque no basquete, o esporte mais popular no país atualmente, viveu nos EUA, em Muscatine, no estado de Iowa, gosta de filmes de Steven Spielberg, mandou a filha estudar em Harvard e gosta de dançar. Seu sonho? Uma aliança com Barack Obama que lhe dê força para marginalizar os conservadores do comitê permanente. As denúncias de enriquecimento ilícito contra sua família veiculadas pela Bloomberg em junho têm sido consideradas uma advertência da facção conservadora.
Apesar da popularidade, Xi é um enigma. Às vezes se comporta como um burocrata, noutras como um reformista. Ninguém sabe qual será sua plataforma de governo, se é favorável a mudanças na economia ou reformas políticas, para onde quer levar a China e de que forma pretende atender às reivindicações de grupos sociais que, na esteira do processo de modernização do país, exigem “reformas já”. (O Globo)