LUÍS AUGUSTO GOMES
A Câmara Municipal de Salvador se contorce em dores com a eleição do presidente em novo cenário. Com a posse, em breve, do prefeito ACM Neto, duas forças politicamente antagônicas estarão no exercício do poder na cidade, e, portanto, o controle do Legislativo será um trunfo essencial a qualquer dos lados.
A correlação no futuro plenário indica com clareza 16 vereadores no bloco governista, 13 na oposição, e, ainda, como diz conhecedor profundo da Casa, 14 “flutuantes”, com tendência a “votar livremente”, mas que, como ocorre há dezenas de legislaturas, acabarão aninhando-se delicadamente “no colo do prefeito”.
“Vai acontecer na Câmara o que aconteceu no governo Wagner”, diz o especialista, referindo-se às adesões em massa no primeiro quatriênio do atual governador, transformando na Assembleia Legislativa o plenário equilibrado que saiu das urnas numa maioria tão grande que até foi preciso recusar deputados.
PTN tem principais candidatos – A prioridade, a ser seguida a praxe nos legislativos, é que a presidência seja ocupada pelo maior partido da base do governo, que, no caso, é o PTN, com seis vereadores, numa escolha que praticamente se reduz a dois – Carlos Muniz e Geraldo Júnior –, porque os três calouros têm contra si essa condição e Alan Castro parece afastado do páreo.
Geraldo lançou a candidatura anunciando que já tinha “o referendo” do prefeito João Henrique a da primeira-dama Tatiana Paraíso. Mesmo sendo ligado a João, que participou de atos em apoio a sua eleição, a revelação não deixou de ser uma surpresa, pois não se supunha o prefeito e a mulher tivessem influência no processo.
Na verdade, o vereador tenta desvencilhar-se de um estigma que lhe pode ser fatal: a proximidade ao governo Wagner, traduzida pela ocupação de um cargo na Desenbahia e pelo vínculo com o ex-deputado Jurandy Oliveira, governista que em janeiro retornará à Assembleia Legislativa.
Muniz amacia – Muniz, por sua vez, não se afasta das declarações-padrão em situações sensíveis como a atual. “Só serei candidato se houver, primeiro, a unidade do PTN, e depois a vontade dos colegas”, diz, sem se esquecer de acrescentar que “a Câmara tem 43 vereadores e todos têm condições de assumir o cargo”.
Bacelar está no comando – Por outro lado, não se pode negar o amplo domínio que o presidente regional do PTN, João Carlos Bacelar, exerce nesse quadro conflituoso. Deputado estadual licenciado, titular confirmado na Secretaria da Educação e aliado histórico do prefeito eleito, presume-se que não deixará o leite derramar.
PSD será independente na Câmara – Presidente municipal do PSD, o deputado Alan Sanches disse que os vereadores eleitos em Salvador – Davi Rios e seu filho Duda Sanches – não estarão, “com certeza, nem na bancada do governo, nem na bancada da oposição”, devendo votar “sempre a favor do seu município”.
Sanches lembrou que fez campanha para Nelson Pelegrino (PT) para prefeito, mas que “as urnas preferiram ACM Neto”, do DEM, que é oposição ao governo do Estado, ao qual apoia na Assembleia Legislativa, embora com restrições que tem reiterado até em discursos.
“O nosso posicionamento é muito tranquilo. Nós estávamos num projeto, naquele momento da eleição, e agora estamos formando um bloco de independência”, disse o deputado. A bancada do PSD, dizemos nós, dividiu-se no segunto turno: Duda ficou com Pelegrino e Davi foi para Neto.
Passando em revista o plenário – São os seguintes os partidos que apoiam o futuro prefeito, com os respectivos números de vereadores: PTN (seis), DEM (três), PSDB (dois), PV (dois), PMDB (dois) e PPS (um), totalizando 16. Na oposição, seguramente, estarão PT (sete), PCdoB (dois), PSB (dois), PSOL (um) e PTB (um).
Nos “flutuantes” está armada a maior confusão. Seis vereadores eleitos pelo PRB, PR, PMN, PDT e PRP estiveram com Pelegrino no segundo turno, enquanto Neto teve o apoio dos dois do PP e dos dois do PSL. Marcharam divididos o PSC e o já citado PSD, ambos com um para cada lado. (Por Escrito)