LUÍS AUGUSTO GOMES
A entrevista do vice-governador Otto Alencar ao jornalista Osvaldo Lyra, na Tribuna da Bahia de ontem, combinada com a matéria assinada em A Tarde pela jornalista Patrícia França – certamente uma coincidência –, mais pareceu o lançamento de sua candidatura à sucessão do governador Jaques Wagner.
Chamou a atenção, no caso de A Tarde, a desenvoltura com que Otto falou em nome do governo, anunciando gestões com a presidente Dilma Rousseff para tratar do tema vital da perda de arrecadação que sufoca os municípios baianos. Esse protagonismo normalmente caberia ao próprio governador.
Já na Tribuna, indagado sobre um possível veto do PT a seu nome para “representar a base do governo” em 2014, não mais respondeu com a autoexclusão e a referência ao projeto do Senado. “Não sei qual o pensamento do PT, eu tenho uma boa convivência com todos do PT”, disse, de saída.
Em seguida, citou as boas relações com os demais partidos governistas, enaltecendo algumas de suas lideranças, frisou que joga “para o time”, declarou-se “liderado” de Wagner e garantiu que não é “golpista”. Mas jamais disse “não sou candidato”.
Sem obsessão por cargos no governo – Otto transitou ainda com muita desenvoltura pelas pautas políticas. Referiu-se às dificuldades que o futuro prefeito de Salvador, ACM Neto (DEM), enfrentará, estimulando-o a superá-las e descartando a possibilidade de os governos federal e estadual patrocinarem qualquer tipo de boicote ao adversário.
Analisou a derrota do candidato do PT, Nelson Pelegrino, chegando a dizer que não a julgava possível, tendo eximido de responsabilidade o governador, mesmo no caso das greves de policiais e professores, já que o Estado não teria condições orçamentárias e de receita para atender às reivindicações das categorias.
Por fim, depois de defender a ação administrativa do governo, relacionando obras que, para ele, atestam seu sucesso em vários campos, o vice-governador reafirmou a posição de parceiro que não cria problema para a ocupação de espaços, admitindo que poderá haver conversas, “mas não vai ser uma coisa obsessiva”.
PSD deverá apoiar reeleição de Nilo – Entretanto, se foi discreto quanto às eleições de 2014, Otto usou de mais clareza ao tratar da próxima eleição de presidente da Assembleia Legislativa, marcada para 1º de fevereiro, fazendo ver que seu partido, o PSD, marchará com a reeleição do deputado Marcelo Nilo (PDT).
Primeiro, disse que o partido não disputa o cargo para um de seus filiados, esclarecendo que terá na Mesa Diretora uma cadeira que lhe é regimentalmente assegurada. Depois, elogiou o trabalho de Nilo, “que tem o apoio de seus pares”, e disse ser francamente favorável à reeleição como princípio.
São, portanto, duas posições importantes que começam a se definir, supostamente fazendo parte de um jogo concertado com o governador, que até pela condição de secretário da Infraestrutura de seu vice lhe havia delegado a missão de recuperar o sistema ferryboat, causa popular à qual vem se dedicando com fervor.
Sanches ainda tem esperança – A declaração sobre a Assembleia é tanto mais importante quando se considera que o deputado Alan Sanches (PSD), com a bagagem de quem já presidiu a Câmara de Salvador, disse que o assunto seria debatido no partido e que ele se apresentaria como uma opção para concorrer à presidência.
Na semana passada, Sanches informara que a reunião do PSD seria nesta terça-feira, Ontem, porém, disse que foi remarcada para a próxima semana e que não viu nas palavras de Otto uma decisão, como foi interpretado pelo repórter.
“Quando é que você bota a aliança no dedo na noiva? É na hora do ‘sim’” – perguntou e ele mesmo respondeu, ressalvando antes de entrar no plenário: “Em qualquer situação, o vice-governador Otto Alencar fala por mim”. (Por Escrito)