Dois fantasmas que assombraram o governo de Jaques Wagner este ano, tirando popularidade do governador petista, ressurgiram na última semana de campanha eleitoral. Associações de policiais militares e de professores estaduais decidiram fazer manifestações a poucos dias da eleição, deixando ouriçada a campanha do candidato do PT na cidade, Nelson Pelegrino, que desde a semana passada lidera as intenções de voto.
As greves que as duas categorias fizeram no início deste ano são até agora consideradas as principais responsáveis pelo abalo na imagem do governador Jaques Wagner e do PT no estado, com reflexos na disputa municipal.
Os professores estaduais, que permaneceram 115 dias em greve este ano, fizeram uma paralisação de 24 horas ontem para pressionar o governo a reabrir as negociações. Na segunda-feira à noite, durante o horário nobre, a Associação dos Oficiais da Polícia Militar da Bahia veiculou na Rede Bahia, afiliada da Globo no estado, um anúncio acusando o governo baiano de “não ter respeito aos oficiais da instituição” por descumprir uma decisão judicial sobre salários. A propaganda encerrava com uma pergunta: “Quem promete e não cumpre, merece confiança?”
– Eu só acho estranho porque, coincidentemente, o anúncio da associação da PM sai na emissora em que ACM Neto (candidato do DEM e segundo colocado nas pesquisas) é um dos sócios. Essa é uma das heranças do avô dele – critica o coordenador da campanha de Pelegrino, senador Walter Pinheiro (PT-BA).
Já em relação à paralisação dos professores, Pinheiro evita polemizar:
– Não acredito que os professores tenham se permitido esse tipo de manipulação. Apesar de eles tentarem vincular isso, as pessoas sabem muito bem como eles sofreram ao longo dos anos em governos do PFL da Bahia.
Dentro do governo do estado e do PT, no entanto, é grande a chiadeira com a manifestação dos docentes. Segundo um interlocutor do governador Jaques Wagner, o objetivo da associação de professores era não só atingir a campanha de Pelegrino, mas candidaturas petistas por toda Bahia.
O presidente do Sindicato dos Trabalhadores em Educação do Estado da Bahia, Rui Oliveira, que comandou o movimento, nega qualquer objetivo eleitoral na manifestação que teria parado ontem 80% das escolas do estado.
– Isso foi determinado há mais de um mês. Foram três paralisações. Isso é normal, não vejo nada demais. Qualquer coisa que aconteça vão dizer (que tem relação com a eleição). Não tem nada a ver com Pelegrino nem com ACM Neto – afirma Oliveira.
A polêmica chegou inclusive ao debate entre os candidatos, terça-feira na TV, quando o terceiro colocado nas pesquisas, Mário Kértesz (PMDB), indagou a ACM Neto se ele sabia a origem da propaganda. O candidato do DEM reagiu e atacou o PT no debate. Ontem, Neto voltou a negar qualquer vinculação com os movimentos:
– Nós em hora nenhuma usamos a greve da polícia na campanha, e a greve dos professores só foi exibida para mostrar o caos que está instalado no ensino da Bahia. Quem tem histórico de manipular esse tipo de movimento grevista é o PT, não somos nós. O PT está pagando com seu próprio veneno, porque em época de eleição ele promete uma coisa e, quando chega no governo, faz outra.
Pesquisa Ibope divulgada em 27 de setembro indica que Pelegrino tem 34% das intenções de votos, e ACM Neto 31%. (O Globo)