Flávia Villela
Agência Brasil
Rio de Janeiro – Embora o voto seja opcional para os índios brasileiros, dos cerca de 600 indígenas que moram no Rio de Janeiro, aproximadamente 300 fizeram questão de tirar o título de eleitor. O motivo, porém, não é apenas conscientização da importância do voto, mas, sobretudo, a necessidade do documento para os jovens em busca de emprego, segundo as lideranças das aldeias.
Marcos Caraí Peralto, 21 anos, da Aldeia Itaxim, tirou o título aos 18, pois todos os lugares onde procurou trabalho pediam título de eleitor. Ele se queixou da dificuldade de se tirar o título nas aldeias, pois muitos não têm certidão de nascimento, documento obrigatório para se tirar a cédula eleitoral.
“Para tirarmos o título, precisamos tirar dos nossos próprios recursos, mas eu tirei, porque hoje em dia, para trabalhar, precisamos do título. No momento não estou trabalhando, mas estou procurando”. O jovem disse, porém, que acredita que, por meio do voto, eles podem eleger representantes para ajudá-los a garantir os direitos dos índios.
Na Aldeia Itaxim, em Paraty, na Costa Verde do estado, com 180 índios da etnia Guarani, cerca de 70 vão votar no dia 7 de outubro. Na Aldeia Sapukay, a maior das quatro aldeias do estado, em Angra dos Reis, na mesma região, dos cerca de 400 guaranis, pouco mais de 130 têm título de eleitor.
O vice-cacique da Aldeia Sapukay, Domingos Venite, de 61 anos, disse que alguns membros da comunidade estão até se alistando no Exército, embora não seja obrigatório aos índios, para ajudar em uma futura vaga de emprego. Ele lamentou a realidade dos jovens indígenas, hoje em dia sem oportunidades dentro da terra indígena, e alertou que se não forem feitas políticas públicas para essa faixa etária, a delinquência pode se tornar uma realidade entre a juventude indígena.
“Hoje está muito difícil para os povos indígenas. Não temos terra para trabalhar. É pouca terra e é pouco produtiva. Não dá para viver apenas do artesanato. A gente está preocupado, porque os jovens querem ficar, mas não têm condições de trabalhar e ganhar dinheiro. A gente se preocupa que, daqui a uns 10, 15 anos, possa ter índio roubando, assaltando”.