A presidente Dilma Rousseff mudou de ideia. Exatamente um mês depois de pedir ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva que avisasse à direção do PT que sua participação nas eleições deste ano seria mínima, Dilma começa a refazer a agenda, abrindo espaço para subir no palanque de candidatos petistas a prefeito pelo país. O objetivo: socorrer o PT do pífio desempenho nas capitais – hoje, o partido só tem posição confortável em Goiânia (GO). Em São Paulo, Dilma deve participar, ao lado de Lula, do último comício de Fernando Haddad, no dia 29.
A antiga desculpa de que não participaria tão intensamente da eleição para preservar a relação com a base aliada do governo no Congresso caiu por terra. Só nesta semana, Dilma avisou às campanhas de Nelson Pelegrino (PT), em Salvador, e de Patrus Ananias (PT), em Belo Horizonte, que deve participar de atos nas cidades nos próximos dias.
E, na última terça-feira, em depoimento de 30 segundos, a presidente pediu votos na TV para a senadora Vanessa Grazziotin (PC do B), candidata à prefeitura de Manaus (AM). No dia seguinte, Lula subiu no palanque da aliada na capital amazonense. A ofensiva parece ter surtido efeito: pesquisa divulgada nesta quinta-feira mostra que Vanessa subiu dez pontos nas pesquisas de intenção de votos, empatando com o ex-senador Arthur Virgílio (PSDB).
Traição – Em Salvador, a liderança do deputado ACM Neto (DEM) na disputa pela prefeitura fez o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva colocar a cidade em sua lista de prioridades deste ano. Lá, o candidato do PT, Nelson Pelegrino, está em segundo lugar nas pesquisas de intenção de voto.
Dilma tomou a decisão de desembarcar na capital baiana ainda no primeiro turno depois de o PMDB do ex-ministro Geddel Vieira Lima, que é oposição ao PT na Bahia, disparar que estava sendo “traído” pela presidente. Na segunda-feira, ela foi a estrela do programa eleitoral na televisão do candidato petista.
Logo que souberam da estreia de Dilma na campanha de Salvador, os líderes do PMDB baiano começaram a sinalizar ao DEM que apoiarão a candidatura de ACM Neto – que lidera as pesquisas – no segundo turno, caso o candidato da legenda, o ex-prefeito Mário Kestéz, que não saiu de um dígito nas pesquisas de intenções de voto, não passe do primeiro turno.
Embate mineiro – A presidente analisa a possibilidade de desembarcar em Belo Horizonte neste sábado, mas sua viagem no domingo para os Estados Unidos, onde participará da Assembleia Geral da ONU, pode adiar o socorro a Patrus Ananias (PT) em uma semana. De acordo com a última pesquisa Datafolha, Márcio Lacerda (PSB), com 46% das intenções de votos, tem vantagem de 18 pontos em relação ao candidato petista, que corre o risco de perder a eleição no primeiro turno.
Principal cabo eleitoral do prefeito Marcio Lacerda, o senador Aécio Neves (PSDB) afirmou na última terça-feira que a presidente Dilma Rousseff “faz maldade com Minas Gerais”. A declaração do tucano, feita durante entrevista em um ato da campanha do prefeito, foi uma crítica ao veto da presidente ao aumento dos royalties da mineração.
Dilma estabeleceu como prioridade eleger o petista Patrus Ananias prefeito da capital mineira depois que passou a enxergar em Belo Horizonte uma prévia da eleição presidencial de 2014 contra Aécio Neves. A operação que, pode terminar no grande fiasco de Dilma, terminou com o lançamento da candidatura de Patrus articulada pelo Palácio do Planalto.
Veto a ministros – Há um mês, a expectativa mais realista do PT era a de que a presidente esperasse o segundo turno para entrar nas campanhas. A quem perguntava, ela repetia o discurso de a melhor forma de contribuir com o partido era “continuar governando bem o Brasil”.
No início de julho, a poucos dias da largada oficial da eleição, Dilma chegou a dizer a alguns ministros que não tinha a menor intenção de participar da campanha. Na mesma época, a presidente orientou sua equipe ministerial a somente participar das campanhas eleitorais fora do horário de trabalho.
“Nós temos uma orientação muito clara da presidente. Fora do horário do expediente, cada um exerça sua militância, que não comprometa as atividades dos ministérios. Isto vale para os ministros de todos os partidos”, disse a ministra da Secretaria de Relações Institucionais, Ideli Salvatti, no dia 3 de julho.
Em agosto, na véspera da estreia do horário eleitoral no rádio e televisão, Dilma lembrou os ministros que nenhum deles poderia recorrer a “agendas casadas”, em que aproveitam atos oficiais no fim de semana, com viagens em aviões da Força Aérea Brasileira (FAB), para depois subir em palanques.
Embora tenha proibido seus ministros de fazer campanha nas capitais em que partidos de grande porte da base estivessem na disputa, Dilma abriu a primeira exceção quando pediu que o ministro Fernando Pimentel entrasse de cabeça na eleição mineira. Pimentel é uma das peças-chaves da campanha de Patrus na disputa pela prefeitura de Belo Horizonte. (Veja)