A divulgação de um vídeo no qual o deputado da oposição venezuelana Juan Carlos Caldera aparece recebendo dinheiro de um importante empresário supostamente vinculado ao governo do presidente Hugo Chávez aprofundou o clima de tensão no país, faltando menos de um mês para as eleições de 7 de outubro.
Analistas e dirigentes opositores asseguram que Henrique Capriles está sendo vítima de uma guerra suja. Já representantes do Palácio Miraflores responsabilizaram Capriles pela ação de Caldera, imediatamente afastado do comando de campanha e expulso do partido Primeiro Justiça, pilar da aliança opositora.
O vídeo, que teria sido gravado em junho, foi apresentado por dirigentes do Partido Socialista Unido da Venezuela (PSUV) no mesmo dia em que um ex-magistrado do Tribunal Supremo de Justiça do país, Ramón Eladio Aponte Aponte, admitiu publicamente ter recebido ordens do presidente para condenar a 30 anos de prisão ex-policiais envolvidos nos violentos incidentes de 11 abril de 2002, dia em que Chávez foi vítima de um golpe de Estado que o manteve 48 horas longe do poder.
Aponte está nos EUA, com proteção do governo americano por ser considerado um perseguido político. A notícia não teve grande repercussão na Venezuela, já que as imagens de Caldera aceitando um envelope com US$ 9.300 enviado pelo empresário Wilmer Ruperti roubaram a cena.
O caso Caldera somou-se a outros obstáculos enfrentados por Capriles nos últimos dias. Além do ataque de grupos violentos durante uma visita do candidato a Puerto Cabello, em Carabobo, ele enfrenta a decisão de quatro pequenos partidos políticos de retirarem seu apoio e a publicação na imprensa de um suposto plano econômico da oposição que prevê a implementação de drásticas medidas de ajuste, o que ele nega.
– Estamos entrando numa etapa final duríssima, a sensação de guerra suja é cada vez maior – comentou Carlos Romero, da Universidade Central da Venezuela (UCV).
Empresário falido – Muitos jornalistas e analistas destacaram a rápida reação de Capriles e consideraram suspeita a participação de um empresário relacionado com o chavismo numa operação que, para muitos, foi cuidadosamente preparada.
Em coluna no “Diário de Caracas”, o cineasta Thaelman Urgelles lembrou que Ruperti era um empresário falido até começar a enriquecer após ajudar o governo durante a greve do setor petroleiro em 2002. Urgelles, como a maioria dos venezuelanos, condenou a ação de Caldera, mas lembrou que “Chávez venceu as eleições de 1998 com financiamento de um conhecido banco espanhol e dos governos de Cuba e outros países comunistas”.
O escândalo chegou no momento em que o percentual de indecisos ainda ronda os 20% e diferentes pesquisas de intenção de voto apontam variados cenários eleitorais, até mesmo uma vitória de Capriles.
– Assim está sendo financiada a campanha do candidato da burguesia – enfatizou Diosdado Cabello, presidente da Assembleia Nacional e homem forte do chavismo e das Forças Armadas do país. (O Globo)