LUÍS AUGUSTO GOMES
O jogo eleitoral produz argumentos curiosos, como o elogio, por Mário Kertész (PMDB), à boa qualidade da memória do povo como um dos trunfos com que conta para o bom êxito na campanha, já que as pessoas, como se vê em seu programa, “lembram” de obras e serviços que ele realizou nas duas vezes em que foi prefeito.
Kertész desqualifica as propostas dos demais candidatos, tachando-as de “a mesma coisa”, no que vai ao encontro do pensamento do eleitor médio, que está – poderia dizer o próprio radialista com seu estilo – “de saco cheio” das promessas de sempre. E assim se coloca como o “diferente”, porque foi “um prefeito que provou que sabe fazer”.
A questão está em que memória serve para tudo, não para temas específicos, e, quando claudica, não falta quem queira reavivá-la. As tendências atuais não recomendam, mas, se preciso for, não há dúvida de que as administrações kertistas serão esmiuçadas e levadas a público.
Primeiro governo foi de ACM – Aliás, essa condição – de duas vezes prefeito – é usada por ele para chamar a atenção para outro aspecto que atestaria a propalada competência do candidato: “Governei Salvador do lado do governo e na oposição”.
Não exatamente. A primeira gestão (1979-1981) foi indireta. Ele foi nomeado pelo governador Antonio Carlos Magalhães, também indireto, e mandava tanto quanto Antonio Imbassahy nos dois mandatos de prefeito que exerceu sob o carlismo, de 1997 a 2004.
A segunda, porém, de 1986 a 1988, para a qual foi eleito diretamente em aliança com a “esquerda”, será recordada como um desastre político e administrativo. Kertész teve um ano com o governador carlista João Durval e os dois restantes com Waldir Pires, que inclusive era seu correligionário no PMDB.
Um fracasso literalmente concreto – Com a postura autoritária que transparece até na atividade diária no rádio, o então prefeito não soube liderar a parte que lhe cabia naquela aliança, destruindo-a e levando o partido, que controlava, a indicar Fernando José, eleito não pelo apoio do prefeito, mas pela popularidade de que desfrutava como radialista.
No governo em si, é emblemático que seu maior fracasso tenha sido numa área que até hoje é a grande dor-de-cabeça da cidade: o transporte público. O famigerado projeto do “bonde moderno” morreu, deixando em grandes avenidas apenas o dinheiro jogado fora das grandes estruturas de concreto abandonadas. (Por Escrito)