O comportamento do relator do processo do mensalão no Supremo Tribunal Federal, Joaquim Barbosa, no primeiro dia do julgamento do caso, anteontem, foi alvo de críticas reservadas de colegas. Único a falar publicamente, o ministro Marco Aurélio Mello disse ter ficado “pasmo” com a postura de Barbosa em relação ao colega Ricardo Lewandowski. Afirm ter receio da gestão de Barbosa na presidência do STF a partir de novembro.
“Não gostei pela falta de urbanidade do relator. Precisamos discutir ideias, não deixando descambar para o lado pessoal. Me assusta o que podemos ter após novembro (quando Joaquim Barbosa assumirá a presidência do STF)”, afirmou. “Costumo dizer que o presidente (do STF) tem de ser um algodão entre cristais, não pode ser metal entre cristais”, disse Marco Aurélio.
Barbosa rebateu o colega, mas sem especificar o alvo de suas declarações. “Em qualquer atividade humana, urbanidade e responsabilidade são qualidades que não se excluem. Mas, às vezes, a urbanidade presta-se a ocultar a falta de responsabilidade. A propósito, é com extrema urbanidade que muitas vezes se praticam as mais sórdidas ações contra o interesse público”, afirmou.
Na sessão de anteontem, Barbosa criticou Lewandowski – revisor do mensalão – por ter defendido o desmembramento da ação penal justamente no primeiro dia de julgamento do caso, sete anos depois de o processo ter começado a tramitar no STF. O relator da ação penal disse que Lewandowski agia com “deslealdade”.
“Será que ele se arvora a ser censor dos colegas?”, questionou Marco Aurélio ao dar entrevistas ontem. Ele e Barbosa já bateram boca no plenário do STF. E, em mais de uma vez, Marco Aurélio criticou o comportamento ou declarações do colega.
Reservadamente, ministros afirmam que Barbosa não surpreende o tribunal ao entrar em embate com os colegas. Lembram, por exemplo, a discussão entre ele e Gilmar Mendes.
No entanto, alguns criticam também a conduta de Lewandowski. Na sessão de anteontem, o revisor do processo do mensalão leu, por mais de uma hora, um voto sobre a possibilidade de desmembramento do processo, assunto que foi votado em ocasiões anteriores durante o processo.
Primeiro negro a ocupar uma cadeira de ministro do Supremo, Barbosa assumirá em novembro a presidência do tribunal, substituindo Carlos Ayres Britto, que terá de deixar o cargo e se aposentar compulsoriamente por completar 70 anos. (Estadão)