REDAÇÃO DO JORNAL DA MÍDIA
Salvador – A Capitania dos Portos interditou e apreendeu na última sexta-feira (27) o ferryboat “Juracy Magalhães”, que está com um rombo no casco e fazendo água no convés inferior. Foi a segunda embarcação operada pela TWB apreendida pela Capitania em menos de uma semana – o navio “Rio Paraguaçu”, também com o casco furado, tinha sido interditado pela CP na terça-feira (24).
O furo no casco do “Juracy Magalhães” está localizado próximo ao eixo, fazendo com que a água entrasse em grande volume para o lastro da embarcação, colocando em risco a segurança de milhares de usuários que utilizam o sistema.
O “Juracy Magalhães” foi apreendido sexta-feira, às 18h40, depois que a Capitania dos Portos recebeu uma denúncia. A água do lastro estava sendo retirada, enquanto o navio operava ”normalmente”, por uma bomba, mesmo artifício irregular utilizado pela TWB no ferry “Rio Paraguaçu”.
Até às 10h30m desta segunda-feira (30), o “Juracy Magalhães” continuava atracado no Terminal de São Joaquim, com soldadores tentando reparar o furo. A TWB nada informou sobre a ocorrência. Funcionários da empresa se dizem impressionados com o nível de abandono e sucateamento das embarcações do sistema ferryboat, todas pertencente ao patrimônio público.
“Não existe mais limite para a TWB. O ferry “Rio Paraguaçu” teve o rombo no casco reparado às pressas e já tinha mais de 15 dias operando e fazendo água. Precisava ser docado em dique seco, mas a empresa para econmizar prefere fazer armengue. O “Juracy Magalhães”, no compartimento onde foram colocadas algumas toneladas de pedras na reforma, para ”equilibrar” a embarcação, a água do mar invadia tudo. Nem os empregados e muito menos os passageiros sabem mais onde a TWB quer chegar com tanta negligência e irresponsabilidade”, disse uma fonte da empresa em denúncia ao JORNAL DA MÍDIA..
Prazo Acabou – Enquanto o ferryboat se arrasta e a crise cresce dia a dia, terminou na última quarta-feira o prazo estipulado pela Agerba para que a concessionária paulista TWB apresentasse argumentos de defesa em relação ao relatório de auditoria, feito pela consultoria Fipecafi, de São Paulo, e que detectou várias irregularidades praticadas desde 2006 no sistema ferryboat – este foi o ano em que a TWB assinou contrato de concessão com o Estado, mas a empresa já opera o sistema desde 2005.
A TWB não tinha apresentado, até quinta-feira, o seu relatório de defesa, que seria preparado, segundo a concessionária divulgou, por profissionais da FIPE, também de São Paulo. Soube-se depois que um ex-dirigente da Agerba da época em que a TWB chegou à Bahia estaria ”colaborando”. Na sexta-feira (27), o secretário de Infraestrutura e vice-governador Otto Alencar, fez publicar portaria indeferindo um pedido da TWB para prorrogação do prazo estabelecido pela Agerba.
A Agerba está exigindo, com base no resultado da auditoria da Fipecafi, que a TWB invista imediatamente R$ 36 milhões no sistema ferryboat. Desde que chegou à Bahia, a empresa só desembolsou, com recursos próprios, pouco mais de R$ 20 mil (isso mesmo, Vinte Mil), de acordo com a Fipecafi, além de não ter cumprido dezenas de cláusulas do contrato de concessão.
A TWB é acusada também de sucateamento da frota do sistema ferryboat e de ter causado outros prejuízos ao patrimônio público, como o desaparecimento de duas balsas que estavam em seu poder e de ter vendido cinco carros cedidos pela Agerba em 2006 – os carros chegaram a ser negociados na “Ilha do Rato”, comércio clandestino de carros, segundo investigação da “Operação Expresso” da Polícia Civil.
Nos meios políticos, circulam informações de que a TWB já é carta fora do baralho e que o próprio governador Jaques Wagner não estaria mais querendo ouvir falar na concessionária, que chegou na Bahia em 2005, trazida por Paulo Souto, mas que praticou a maioria absoluta das irregularidades nos últimos seis anos e meio, justamente na atual gestão. Mesmo sendo uma empresa privada, a TWB é vista sempre como uma coisa do governo, tal é a proteção que sempre recebeu de alguns políticos da base de Wagner, de dirigentes da Agerba e de secretários do governo.
Recentemente, em uma entrevista à TV Record, o secretário Otto Alencar declarou, como se estivesse querendo lavar as mãos, que o problema da TWB hoje não é mais dele e sim do governador. Argumentou Alencar que a Seinfra tomou todas as medidas para investigar e detectar os problemas da TWB – fiscalização, auditoria e relatório da Fipecafi – e que tudo foi passado à Procuradoria Geral do Estado e ao governador Wagner para a decisão final.
Na verdade, para não deixar o governador sozinho com o pepino na mão, é bom lembrar que o problema da TWB é, sim, da esfera de Otto Alencar. Afinal, a sua secretaria, a Seinfra, é a gestora do contrato de concessão e é a quem cabe (se é que não já o fez) um parecer final sobre o caso TWB. A imagem que o governador Wagner tem hoje da concessionária, revelada em off a jornalistas, não é diferente daquela que os usuários têm: a TWB é uma empresa predatória. Wagner demorou para chegar à conclusão. Só resta agora decidir e bater o martelo.