Interceptações telefônicas da Polícia Federal, gravadas com autorização judicial e às quais O GLOBO teve acesso, sugerem que o bicheiro Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira, pagava contas de secretários do governador de Goiás, Marconi Perillo (PSDB), e, para isso, valia-se da construtora Delta. Para membros da CPI do Cachoeira, os diálogos demonstram que várias áreas do governo do tucano estavam comprometidas com o grupo de contraventor. Os deputados e senadores da comissão já defendem a reconvocação de Perillo para falar da liberação de recursos para a Delta em troca da compra de sua casa.
Em 27 de abril do ano passado, irritado com o fato de encontrar dificuldades para emplacar algumas indicações no governo de Perillo, Cachoeira irrita-se com Wladmir Garcez, apontado pela Polícia Federal como o braço político do esquema, e critica Wilder Morais (DEM-GO), que assumiu a vaga de senador que se abriu com a cassação de Demóstenes Torres e que era, até a semana passada, secretário de Infraestrutura do governo. O telefonema foi gravado às 19h e durou 41 segundos.
— Eu não consigo pôr no Detran, o Wilder foi lá e emplacou. O Wilder não dá um centavo pra ninguém. Imagina só: o Wilder vai lá para o Palácio, consegue convencer o Marconi a colocar o cara e você tá lá todo dia e não fala nada. Você tá com o secretariado todo dia, todo dia você traz conta pra mim, levo pro Cláudio, e não consegue emplacar ninguém. Entendeu? — reclamou Cachoeira, fazendo referência a Cláudio Abreu, da Delta Construções.
— Escutei, chefe — admite Wladmir, encabulado.
Às 19h22m, Cachoeira volta a dizer que paga as contas dos secretários:
— Ô, Wladmir, eu tô fazendo a coisa. Esquece esse negócio de viagem, meu. Eu tô puto, porque vai enchendo o saco, vai caindo a gota, sabe, aí um bobão tá lá no trem lá, ele tá lá. O Edivaldo (Cardoso, presidente do Detran de Goiás) fala que não tem isso, não tem aquilo, que acabou com a CLT, que não sei o que que tem, que não vai fazer isso, não vai fazer aquilo, e o cara tá lá. Tá sendo empossado na nossa cara, rapaz. E nós aqui, ó. Você todo dia traz uma conta diferente pra mim. Todos os dias. Um cargo que a gente tinha, todo dia, esse bosta deste cara, esse malandro desse Rincón, todo dia você tá com ele, rapaz, nós tínhamos uma gerência, nós tínhamos uma diretoria forte. Não temos mais nada. Não temos uma pessoa nossa lá — irrita-se o bicheiro. (Chico de Gois/O Globo)