LUÍS AUGUSTO GOMES
O 2 de Julho sempre foi, até a década de 60, uma festa puramente cívica, em que as famílias se postavam nas calçadas do trajeto, agitando bandeirinhas do Brasil e da Bahia para saudar a passagem dos Caboclos, símbolos da luta ancestral pela consolidação da Independência.
A participação de autoridades era uma exigência institucional, e num tempo de democracia eram ressaltados apenas os aspectos patrióticos. Ia-se às ruas para transmitir à população, especialmente à juventude estudantil, os valores da nacionalidade, aliás cultivados também com muita devoção no ambiente escolar.
A politização do cortejo, particularmente nos anos eleitorais, como sucedeu também com a Lavagem do Bonfim, é uma prática surgida durante a ditadura militar. Sujeitada à repressão e ao controle da informação, a sociedade passou a usar a data magna da baianidade para manifestação que em outros espaços inexistia.
Os eventos de ontem, com vaias e gestos de contestação ao governador Jaques Wagner ao longo de todo o percurso, e até o arremesso contra ele de uma faixa enrolada com as duas madeiras de sustentação, evidenciam uma tendência à radicalização que convida a uma mudança de postura para evitar a completa desfiguração da festa.
Temor de confronto estava patente na Lapinha – Houve, em edições passadas, conflitos políticos e apupos localizados contra esta ou aquela autoridade. Em 2012, porém, tendo como pano de fundo a greve quase trimestral dos professores da rede pública e a predisposição ao protesto mais duro, fatos lamentáveis aconteceram, a começar pela restrição física à movimentação de pessoas no Largo da Lapinha.
Às 7 horas da manhã, o cenário mais sugeria que naquela área haveria um confronto, tal o número de barreiras percebidas já no Largo da Soledade e o enorme contingente de policiais, fardados ou à paisana. Um cordão de PMs tentou isolar os professores, que começavam a reunir-se em frente a um posto de combustíveis.
Sindicalistas protestavam usando um megafone, mas o entendimento com um oficial acabou por desfazer a formação. Diante da imagem do governador com um chicote nas mãos, caracterizado como Judas, o major Teixeira, ao afastar os soldados do grupo, frisou: “O governo é democrático”.
Segurança foi a tônica do desfile – A partida antecipada em pelo menos uma hora dos carros da Cabocla e do Caboclo demonstravam preocupação de acelerar o desfile, que às 8h30 já descia a Ladeira da Soledade, onde aconteceu o incidente da faixa, tendo o agressor sido imediatamente detido por policiais.
Assediados por jornalistas, fotógrafos e cinegrafistas, mas cercados por policiais a que se costuma chamar de P-2, sem farda, o governador, a primeira-dama Fátima Mendonça e o candidato a prefeito Nelson Pelegrino, entre outros, contaram ainda com a proteção extra de colunas de soldados nas laterais, o que nunca se viu em anos anteriores.
Cerca de uma hora e meia depois, o governador chegou ao Terreiro de Jesus, mas desta vez não ocorreu a habitual entrevista à imprensa. O carro oficial o aguardava no Maciel de Cima e nele Wagner entrou rapidamente, sem responder a perguntas de natureza política que lhe foram feitas. Na partida apressada, o veículo da segurança passou por cima do pé de um transeunte. (Por Escrito)