O assassinato do executivo da Yoki Marcos Matsunaga, de 41 anos, pela técnica em enfermagem e ex-garota de programa Elize Matsunaga, 30, atrapalha os sonhos das profissionais do sexo que, como ela, desejam abandonar a profissão para constituir uma família com um eventual cliente.
É o que acham as ex-garotas de programa, escritoras e autoridades no assunto Raquel Pacheco, a Bruna Surfistinha, e Vanessa de Oliveira, palestrante e consultora sexual da revista “Playboy”.
Para Raquel, o estigma social de trabalhar com sexo já influenciava negativamente a vida de quem é profissional da área. “Há, sim, um preconceito. E ele pode ter aumentado com esse crime. Acho que os homens que querem casar com ex-garotas de programa vão começar a ficar mais cuidadosos”, falou Raquel.
“Mas a antiga profissão dela não pode ser levada em consideração. Elize agiu por raiva. Esse caso é único. Nenhuma outra garota de programa matou ninguém, mesmo entre as que casaram com clientes, que não são poucas”, disse a ex-profissional do sexo.
Vanessa de Oliveira tem uma história praticamente igual à de Elize, apenas com desfecho diferente. Também formada em enfermagem, ela abandonou a profissão de garota de programa para se casar com um empresário de origem oriental. Como Elize, Vanessa descobriu que estava sendo traída e passou a sofrer abusos morais por parte do marido. Quando obteve provas da infidelidade e as mostrou ao cônjuge, sofreu violência física dele. Mas, ao contrário da ex-prostituta que matou e esquartejou o marido, Vanessa preferiu sair de casa e processá-lo na Justiça.
“Eu entendo Elize. É terrível ser humilhada o tempo todo. Qualquer coisa que acontecia era culpa do meu passado. Em toda discussão ele jogava isso na minha cara”, lembra. “Elize era uma mulher bonita, ganhava dinheiro, abandonou a profissão, socialmente aceita ou não, mediante uma promessa de relacionamento e amor”, continua. Vanessa trabalhou como garota de programa por cinco anos e viveu com o ex-marido por dois anos.
Ela concorda com Raquel que o caso Yoki pode aumentar o preconceito, dificultando futuros relacionamentos estáveis. “A profissão não determina o caráter de ninguém. As pessoas ainda têm muito preconceito.”
A experiência com o empresário oriental acabou em um livro, “Psicopatas do Coração”, em que Vanessa relata o romance fracassado e dá dicas para as mulheres se prevenirem contra outros pretendentes mal-intencionados.
Efeito colateral – As garotas de programa do site de anúncios de acompanhantes MClass afirmaram que a exposição na mídia fez triplicar o movimento e também comentários entre os clientes. De acordo com as garotas ouvidas pelo DIÁRIO, que falaram sob a condição de anonimato, todos os homens que saem com elas comentam o caso.
“Logo que saiu nos jornais que a Elize e a Natália (a outra garota de programa que era amante de Matsunaga) tinham anúncios no MClass, o telefone não parou mais de tocar. Tive um movimento pelo menos três vezes maior”, disse Kelly, que mantém um anúncio no site.
“Todo cliente agora quer saber se eu conheço a Elize ou a Natália, perguntam sobre o caso, brincam se eu não vou fazer o mesmo”, falou Amanda, outra anunciante do serviço. (Fabio Pagotto, no Diário de S. Paulo)