O empresário Abilio Diniz deixou na sexta-feira o controle do Pão de Açúcar, agora nas mãos do grupo francês Casino, encerrando um ciclo de comando familiar que iniciou em 1948, quando seu pai, Valentim Diniz, fundou a companhia. Diniz passou a presidência da holding de controle do grupo, a Wilkes, para Jean-Charles Naouri, presidente do Casino, de forma “tranquila e elegante”, em suas palavras, numa reunião pela manhã.
Porém, falando a acionistas da companhia à tarde, Diniz atacou seu sócio francês, com quem está rompido desde que propôs a fusão do Pão de Açúcar com o Carrefour, há um ano. Agora na condição de segundo maior acionista da empresa, ele também evitou dar um tom de despedida a sua saída do controle.
Alegando não querer ser “traído pela emoção”, Diniz leu um texto durante a assembleia em que comunicou as mudanças aos acionistas.
— Devido aos acontecimentos dos últimos tempos, fui tomado por mágoas, tristezas e decepções. Injustiças e distorções da verdade me atingem mais do que agressões claras e diretas. Negar o sofrimento seria falso e muito pouco convincente — disse Diniz.
— Fui acusado de quebrar contrato e não cumprir o combinado. Estou aqui para provar que aquelas acusações são falsas.
Diniz referia-se ao processo que o Casino move contra ele na Câmara de Comércio Internacional, por ter negociado com o Carrefour sem informar. No primeiro dia do novo comando, os papéis preferenciais (PN, sem voto) do Pão de Açúcar avançaram 2,03%, a R$ 75. Mas isso não compensou as perdas na semana: as ações encerraram em queda de 0,64% no período, devido ao tombo de 3,82% na quinta-feira. No ano, acumulam ganho de 12,65%, destaque do mercado.
Em relatório, analistas do HSBC afirmaram que a troca de controle abre possibilidades positivas para as operações do grupo, como a consolidação de investimentos no Brasil e aceleração do crescimento orgânico. Para eles, a transição não deve ter grande influência sobre o preço das ações.(Ronaldo D’Ercole, O Globo)