Redação do
JORNAL DA MÍDIA
Salvador – A concessionária paulista TWB parece ter encontrado um caminho para fazer o aporte de R$ 36 milhões exigido pela Agerba (Agência de Regulação da Bahia) para investimento imediato no sistema ferryboat. A companhia, que em sete anos de contrato com o Estado botou do seu apenas R$ 20 mil (vinte mil) no negócio, conseguiu desenvolver com seu staff uma verdadeira ”obra” de engenharia financeira. Quer pagar o que deve com papel.
Ou melhor, com vento.
Investimento em dinheiro mesmo no sistema, que ela é acusada de sucatear, com a dilapidação sem precedentes do patrimônio público, a TWB não fará nenhum. Nenhum centavo.
Isso mesmo. A paulista TWB, totalmente descapitalizada e, segundo parecer do Instituto dos Auditores Fiscais (IAF), completamente quebrada, quer inflar seu capital com títulos precatórios do Estado adquiridos, só Deus sabe como, por preços irrisórios de terceiros.
Ou com títulos da Dívida Agrária, cujo valor de face chega a ser duas mil vezes menor que o praticado no mercado. Ou seja, a TWB quer iflar seu capital com papeis e assim continuar operando o ferryboat, onde fatura R$ 70 milhões por ano.
O JORNAL DA MÍDIA recebeu informações seguras ontem sobre a jogada da TWB, indicando que a companhia já tinha fechado a operação com especuladores de títulos precatórios do Estado. Além disso, a concessionária já teria concluído o relatório para contestar o que a consultoria Fipecafi fez, sob encomenda da Agerba, e que a colocou no fundo do poço, apontando, entre outros males ao sistema ferryboat, a necessidade de um investimento total de R$ 64 milhões.
Para contestar a Fipecafi e a Agerba, a empresa paulista anunciou a contratação da Fipe (Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas, de São Paulo). Pelo menos é o que a TWB colocou em um comunicado aos seus funcionários.
Na prática, porém, comenta-se que quem construiu o relatório foi um ex-diretor da Agerba que, após ter deixado a agência de regulação em 2007, tentou se transformar em diretor da TWB na Bahia. A posse só não foi confirmada porque o então secretário de Infraestrutura, Batista Neves, impediu.
Pagamento em dinheiro – Se a TWB vai conseguir convencer o governo da Bahia a pagar o que deve com papeis, ou melhor, com vento, ninguém sabe. Mas tudo é possível diante do quadro de descompromisso total do governo em relação aos interesses do cidadão.
Uma fonte da diretoria da Agerba consultada pelo JORNAL DA MÍDIA garantiu:
“Os R$ 36 milhões que a Agerba exige que a TWB invista imediatamente no sistema ferryboat terão que ser em dinheiro, nada de papel. Isto está bem claro no relatório e a agência não vai abrir mão. Não existe outra forma. Papel não vai resolver o problema do ferryboat, que precisa de manutenção e uma reforma completa devido ao estado de abandono dos navios”.
Enquanto isso, no mar, a situação de operação do sistema ferryboat é coisa para se ter pena. Os ferries se arrastam, o farrugem toma conta de tudo e a imagem que passam refletem com precisão o descaso, a negligência e a incompetência no gerenciamento do sistema.
O navio mais novo, o “Anna Nery”, está fazendo a travessia em uma hora, em vez de 35 ou 40 minutos. No Terminal de Bom Despacho, o “Ipuaçu” completou 15 meses parado. Está com o casco arrombado e já fez água diversas vezes.
Em São Joaquim, também entregues, os navios “Pinheiro”, ”Agenor Gordilho” e “Rio Paraguaçu”. No “Agenor”, também com problema de casco, entrou água há pouco mais de uma semana. Quando estava em tráfego, operava com apenas um motor – o outro bateu.
O caos é total. Em vez de buscar uma solução urgente, com a substituição imediata da TWB por outra operadora, o governo da Bahia segue inerte, pouco ligando para um problema que pode ter consequências graves, já que o risco de um acidente de proporções é cristalino.
Em vez de encarar o problema de frente, o governador Wagner, toda vez que questionado, muda o assunto e ”fala” da ”ponte Salvador-Itaparica”, seu grande projeto que não sai do papel. Nem se fala mais no edital da ponte e muito no prazo previsto para a sua construção. É assustador o descomprimisso do governo do PT com assuntos que mexem tanto com a vida dos baianos. A greve dos professores, completando 70 dias, um recorde histórico na Bahia, está aí para comprovar.