REDAÇÃO DO
JORNAL DA MÍDIA
Salvador – Irresponsabilidade, negligência, descaso com a vida humana. A concessionária paulista TWB continua praticando inúmeras irregularidades na operação do sistema ferryboat, apesar de o Governo do Estado continuar insistindo e prometendo a população que o “serviço vai melhorar”. Os navios continuam totalmente sem manutenção e o processo de sucateamento é cada vez mais evidente – basta se observar as condições em que as embarcações do Estado estão, abandonadas no Terminal de Bom Despacho.
E o que é mais grave: o ferryboat “Ipuaçu”, largado em Bom Despacho pela TWB, está com um rombo no casco. Constantemente tem a praça de máquina invadida pela água. Na última sexta-feira, por exemplo, a água da praça de máquina e do convés teve que ser bombeada para evitar que a embarcação afundasse. A operação foi feita às pressas, porque a TWB estava aguardando, segundo se informou, que fiscais da Agerba comparecessem ao local para ”inspecionar” o navio.
O “Ipuaçu” já tem 15 meses abandonado em Bom Despacho. Desde que assumiu a Secretaria de Infraestrutura, em janeiro de 2011, o secretário e vice-governador Otto Alencar tem anunciado, em repetidas entrevistas, que em ”menos de 30 dias” o navio voltaria ao tráfego. Otto falou pela primeira vez sobre o assunto em maio do ano passado. O São João passou, vários feriados prolongados ocorreram, acabou o Verão e nada.
Tudo indica que o “Ipuaçu” terá o mesmo destino do ferry”Gal Costa”, vendido como ferro velho por apenas R$ 50 mil, depois de ser totalmente depenado e sucateado pela TWB, segundo já foi amplamente divulgado pela imprensa. O processo de canibalização do “Ipuaçu” já teve início faz tempo. A TWB, sob o conhecimento do governo, através da Seinfra/Agerba, vem tirando peças do navio para colocar em outros sempre que é necessário. A empresa paulista sempre adotou essa prática condenável de dilapidação do patrimônio público, mas, é bom repetir, tudo feito na cara do governo.
Motor Batido – Se a situação do navio “Ipuaçu” já é de depenação, a do dose-dupla “Agenor Gordilho” não fica muito atrás. Há menos de dois meses esse navio foi docado na Base Naval de Aratu, segundo informou a TWB com o respaldo da Seinfra/Agerba, para passar por ”manutenção”. Pois bem: o “Agenor” voltou a tráfego exatemente como foi para a Base Naval. A única diferença é que deram uma ”pintura a facão”.
Desde o Carnaval, o navio vem operando precariamente, fazendo a travessia em 1 hora e meia. Um funcionário da TWB informou ao JORNAL DA MÍDIA que o “Agenor” estava em tráfego desde o Carnaval com apenas um motor e que a Agerba e a Capitania dos Portos tinham conhecimento da gravidade.
“Um motor bateu e o outro já está próximo de bater. Não existe manutenção. A TWB está aproveitando o que sobrou das carcaças da reforma do ferry “Juracy Magalhães” para colocar no “Agenor”, um verdadeiro absurdo. O risco da embarcação quebrar no meio do mar é constante e os usuários não têm o menor conhecimento do perigo que correm”, reforçou a fonte do JM.
O “Agenor Gordilho” também foi encostado em uma gaveta em Bom Despacho. Está fazendo companhia ao “Ipuaçu”. Tem também problema de entrada de água na praça de máquina.
E o resultado da Auditoria – Em recente relatório divulgado pela Agerba, os problemas de falta de manutenção, sucateamento da frota e falta de investimento pela TWB no sistema ferryboat foram apontados pela consultoria Fipercafi, contratada pela agência de regulação para fazer uma auditoria na TWB.
Segundo o relatório, a TWB só investiu apenas R$ 20 mil (vinte mil, acreditem!) no sistema. O contrato de concessão estipulou investimento de R$ 100 milhões em 10 anos. A TWB já tem sete anos na Bahia. A Agerba está exigindo que a concessionária invista em 30 dias R$ 36 milhões na melhoria do sistema.
Na audiência pública que realizou mês passado sobre o assunto, a Agerba deixou claro que pode romper o contrato de concessão, mas os diretores da TWB deram com os ombros. Disseram claramente que não vão investir absolutamente nada e ainda, sem nenhum constrangimento, avisaram que o governo terá que subsidiar o sistema.
A TWB faz pouco caso da Agerba e do governo como um todo. Em um comunicado interno aos empregados, que fez circular há duas semanas, a concessionária deixa claro que as informações apresentadas na audiência serão ainda analisadas pelo governo.
“A partir do entendimento, serão negociadas novas medidas e um aditivo (de contrato) será assinado“, garante o comunicado da TWB, que deixa claro também que conta com o apoio da Fipe (Fundação Instituto de Pesqueisa Econômicas e da FEA de São Paulo, para contestar o relatório da Fipecafi que, segundo afirmaram seus diretores dentro da Agerba, é totalmente furado e não tem qualquer credibilidade.
Portanto, o usuário não deve acreditar muito no que o governo diz através da Agerba e do secretário e vice governador Otto Alencar. A solução para o ferryboat parece cada vez mais distante. Não é por pouco, afinal, que os diretores da TWB sempre se gabam de contar com bons padrinhos e madrinhas na área governamental e entre políticos, inclusive do PT. E cada vez chegando mais. Dizem que a TWB ajudou campanhas de muitos políticos. Deve ter ajudado mesmo. Só assim se explica como a concessionária, que fatura R$ 70 milhões por ano e não investiu nada na Bahia, segundo o resultado da auditoria, destina um pouco do seu lucro líquido anual, estimado em R$ 20 milhões, segundo a própria já divulgou.