Menos de um ano e meio de mandato e governadores de 15 estados somam mais de 370 dias fora do país em viagens oficiais pagas com recursos públicos. Nesse período, cumpriram agenda em 23 países. Levantamento feito pelo GLOBO apontou o governador da Bahia, Jaques Wagner (PT), como o recordista em viagens internacionais no atual mandato.
Desde janeiro de 2011, início da sua segunda gestão, o baiano passou 78 dias no exterior em 14 missões oficiais — quase uma viagem por mês, em média. Depois dele, Antonio Anastasia (PSDB), de Minas Gerais, e Tarso Genro (PT), do Rio Grande do Sul, são os chefes de Executivos estaduais que mais estiveram no exterior, com 35 dias cada um.
Em quarto lugar está o governador do Distrito Federal, Agnelo Queiroz (PT), que ficou 34 dias fora do país. O governador do Rio, Sérgio Cabral, vem em seguida, com 29 dias. Depois, Marconi Perillo (PSDB), de Goiás, 28 dias.
Leia também:
- Wagner, o ”campeão” de viagens, quer virar personagem de Julio Verne, diz vice do DEM.
- Oposição quer dados sobre viagens de Jaques Wagner ao exterior
Já o ranking das comitivas que mais custaram aos cofres estaduais é liderado por Minas (R$ 687 mil), seguido pelo Rio (R$ 342 mil). As viagens do governador baiano, que está nos Estados Unidos em sua 14ª missão oficial, custaram, até agora, R$ 285 mil. A diária mais generosa paga a um governador é a do Rio Grande do Norte, US$ 1.500 por dia. Nos demais estados (exceto Rio, São Paulo, DF e Espírito Santo, que usam outro expediente), o valor fica entre US$ 330 e US$ 600. Os dados são dos governos.
Nas últimas duas semanas o GLOBO solicitou aos 26 estados e ao Distrito Federal a relação de viagens internacionais dos governadores e as despesas. Somente 15 deram informações (ES, RN, GO, TO, SP, RS, MG, BA, PR, SC, RJ, SE, PA, AM e MA). Entre aqueles que não forneceram os dados, O GLOBO identificou que, ao menos, oito governadores estiveram no exterior (CE, DF, MT, PE, AL, AC, PB, PI). O único governador que informou não ter viajado foi Renato Casagrande (PSB), do Espírito Santo.
Controle frágil de despesas – Missões internacionais são consideradas pelos governos instrumentos importantes para a captação de investimentos. Uma análise do roteiro seguido pelos governadores nos últimos 17 meses revelou que o principal destino das comitivas foi a Europa, em crise econômica. Só três governadores visitaram a China — Wagner, Agnelo e Perillo.
A França foi quem mais recebeu missões oficiais. Sete ao todo, sendo que Cabral e Wagner estiveram duas vezes no país na atual gestão. Na sequência, vêm Itália, Portugal, Alemanha e EUA.
A agenda das viagens inclui de reuniões com multinacionais e órgãos governamentais a palestras, seminários, feiras de negócios e participação em eventos esportivos e inauguração de linha aérea. A primeira viagem de Wagner em 2011 foi para o Grand Slam do Judô, na França. Segundo o governo, foi acertada na viagem a realização na Bahia do campeonato mundial do esporte neste ano. No mesmo ano Wagner retornou ao país para divulgar o potencial do cacau baiano na 16ª Edição do Salon du Chocolate, em Paris. Ele foi à China para reuniões com uma montadora de veículos, que, segundo sua assessoria, confirmou a instalação de uma fábrica no estado.
Apesar da Lei de Acesso à Informação estar em vigor desde o último dia 16, pouca coisa mudou na postura dos governos em relação à transparência da gestão. Quase metade dos estados (12) não informou destinos e datas das viagens. Sobre gastos e tamanho das comitivas, a falta de informação foi maior. Somente dez informaram as despesas, sendo a maioria dados parciais.
Investigações em vários estados mostram que desvios em viagens oficiais são comuns. As irregularidades vão do pagamento de viagens particulares com dinheiro público a comitivas fictícias. O ex-governador de Goiás Alcides Rodrigues (PP) foi denunciado pelo Ministério Público por fazer 750 viagens particulares em aeronaves do estado entre 2006 e 2010.
Promotor do Grupo de Defesa do Patrimônio Público de Minas, Daniel de Sá Rodrigues diz que falta controle sobre gastos.
— O sistema de pagamento de diárias é frágil. Em geral, não é preciso prestar contas. (Silvia Amorim e Guilherme Voitch, em O Globo)