Os melhores treinadores do País em atividade comandam os 20 clubes neste Brasileiro-2012. A maioria tem currículo invejável. Ao seu dispor, uma geração de jovens e brilhantes jogadores e veteranos de fino trato. Química perfeita para se pensar no futebol voltado ao ataque, como pede a tradição da nação que aprecia a arte do jogo de bola.
O problema é que nenhum desses senhores têm o Barcelona como parâmetro. Difícil imaginar que pelo menos um dos 20 times do campeonato nacional vá seguir o rastro do Barça.
Não há a menor disposição para se pensar no futebol envolvente, de valorização da posse de bola a favor das ações ofensivas.
Vamos começar pelo Sul. Dorival Júnior, técnico do Internacional, insinua que sua equipe pode vir com dois volantes, os meias Oscar e D’Alessandro e, na frente, Dagoberto e Damião. Seria um alento, mas Dorival anda aflito pedindo um reforço para a vaga de Tinga, que se debandou para o Cruzeiro. Quer um volante para se juntar a Elton e Guiñazú.
No Grêmio, Vanderlei Luxemburgo, um adepto dos volantes de classe em vez dos cascudos, não planeja o Grêmio sem dois marcadores de ofício. Por enquanto tem usado apenas um meia (Marco Antônio) enquanto aguarda o velho Zé Roberto.
O quadro entre os representantes paulistas é desolador. Tite impregnou o Corinthians com o futebol consistente, de força. Felipão não imagina Valdivia e Daniel Carvalho juntos na criação do Palmeiras. Leão, que poderia arejar o São Paulo apenas com Casemiro de volante e os meias Cícero e Jadson, com Lucas, Luis Fabiano e Fernandinho na frente, não abre mão do perdigueiro Denílson.
E Muricy, o mais felizardo dos treinadores por ter Neymar nas suas fileiras, começa a ensaiar o Santos nos passos do Barça. Essa não é a marca de Muricy.
No Rio, o cenário não muda. Joel Santana não se cansa de pedir a contratação de volantes – já tem 13 no seu grupo no Flamengo. Ele nunca foi um treinador de se animar com times ofensivos, goleadores.
Por outro lado, Oswaldo de Oliveira gosta do futebol bem jogado, mas não consegue fazer do Botafogo um conjunto de toque de bola e ataque forte. Vive de cruzamentos na área em busca de Loco Abreu ou de outro poste de plantão. Cristóvão, no Vasco, tem receio de juntar os “velhinhos” Juninho Pernambucano e Felipe, com a solidariedade de Diego Souza. Prefere usar Nilton, um caçador de canelas, e mais Rômulo na proteção da zaga.
Com Thiago Neves, Deco, Rafael Sóbis e Wellington Nem, Abel Braga poderia armar uma linha arrasadora no Fluminense. Poderia. Não raro, ele entope seu time com volantes tipo Diguinho, Edinho, Jean e Valencia.
Em Minas, Celso Roth assumiu o Cruzeiro e anunciou que sua equipe vai ter sempre três volantes. Não quer correr risco. E por isso já ganhou o veterano Tinga para comandar a tropa.
Cuca não deixa por menos no Atlético-MG. Pierre, Leandro Donizete e Serginho, todos volantes, têm a preferência do treinador na formação do meio-campo. Ele deve usar só um meia.
Dos times do Nordeste, apenas o Bahia pode ter uma proposta mais ofensiva enquanto Falcão for o treinador. Vagner Mancini (Sport), Gallo (Náutico), Argel (Figueirense), Geninho (Portuguesa), Adilson Batista (Atlético-GO) e Gilson Kleina (Ponte Preta) também não comungam do futebol-arte.
É bom não esperar fantasia neste Brasileirão impregnado de volantes e técnicos sem ousadia.(Luiz Antonio Prosperi/Estado de S. Paulo)