O jornal português Publico abriu três páginas nobres da sua edição de domingo para apresentar as ideias do governador do Rio Grande do Sul, Tarso Genro. Ele fala sobre a situação mundial, as repercussões das políticas argentinas e venezuelanas no Brasil e sobre o abandono de suas pretensões presidenciais. Há alguns trechos, no entanto, que prometem torcer o nariz de petistas radicais que insistem em afirmar que o ‘mensalão’ foi uma fantasia. Tarso admite os erros do PT e confia num processo de aprendizado da legenda. Tarso, que hoje está na Inglaterra, esteve em Portugal há uma semana. Confira:
Publico – Pelo caminho o PT tropeçou várias vezes em casos de corrupção, quer no Governo Lula, quer agora no Governo Dilma, com vários governantes deixando o governo. Isto corresponde a uma divisão do PT entre bons e maus?
Tarso – O PT, como qualquer comunidade, tem pessoas e grupos que cometem ilegalidades. O PT não é um partido de anjos. Nem está imune à falta de virtude que existe na esfera da política e que felizmente não é dominante em nenhum partido. Considero que um partido se diferencia dos outros pela capacidade de exercer internamente um controle e saber reagir contra isso. É impossível que um partido não tenha pessoas que tenham desvio de conduta. E a pior coisa que um partido pode fazer é apresentar-se como um partido mais moralista do que os outros e menos corrupto do que os outros, porque isso só pode ser provado a partir do momento em que se exerce o poder. O PT hoje aprendeu muito com os erros que alguns dos seus dirigentes cometeram, mas estas pessoas ainda não foram julgadas. Tem que se esperar. Um dos grandes condutores do ataque ao PT e da formação de opinião de que o PT tinha uma predominância de pessoas corruptas é precisamente a pessoa que está apontada hoje pela Polícia Federal como organizador da mais complexa e profunda organização criminosa que ocorreu no Estado brasileiro depois da democratização: o senador dos Democratas, Demóstenes Torres. Não sabemos se é culpado, temos de esperar.
Publico – Depois do ‘mensalão’, o que mudou na relação do PT com a sociedade brasileira?
Tarso – Mudou para melhor e mudou para pior. Para melhor porque o partido passou a cuidar-se muito mais e a preocupar-se com a sua conduta. Para pior porque o ‘mensalão’ carimbou o PT como o partido que também tem pessoas que cometem ilegalidades, que é igual aos outros e nós fazíamos questão em dizer que eramos diferentes. Temos de ser um partido diferente, mas não podemos nos iludir que somos um partido de pessoas perfeitas. Isso é uma visão religiosa da política que é sempre desmascarada.