Luís Augusto Gomes
A evocação da imagem e da trajetória do falecido senador Antonio Carlos Magalhães foi a postura mais marcante do deputado ACM Neto (DEM), hoje, no discurso em que assumiu a candidatura a prefeito de Salvador, em solenidade realizada no Hotel Fiesta, reunindo a cúpula nacional do partido e numerosos deputados federais.
No final do pronunciamento, Neto revelou uma “emoção de criança” que teve ao ler uma carta de Jorge Amado a ACM, datada de 1969, na qual o escritor destacou que o então prefeito “preparava a cidade para o futuro”, realizando “uma obra que só um cego ou cretino tentaria negar”, descrita como “um ato de amor de quem soube colocar sua paixão desatinada a serviço de Salvador”.
Como se sabe, quando concorreu à Prefeitura em 2008, Neto disse que seu avô fazia “uma política do passado”, perdendo preciosos votos entre os carlistas ortodoxos e a chance de chegar ao segundo turno. Agora, ele acha que “aquela mesma paixão” o move e sentenciou: “Não tenho o direito de errar. Meu compromisso é lutar por Salvador, mesmo depois que o branco tomar conta de meus cabelos”.
Deputado se diz “maduro” para a “convocação” – Citando oradores que o antecederam, o deputado disse que estava diante de “uma convocação nacional e estadual” do seu partido, mas eram “as palavras do povo nas ruas” que o levavam a assumir a “pré-candidatura” – como impõe a legislação. Considerou que “os últimos meses foram decisivos, andando por Salvador, olhando nos olhos das pessoas e ouvindo manifestações”.
Em dez anos de exercício de mandatos, Neto disse que o que mais o tocou foi a disputa de 2008, quando “outras circunstâncias políticas” o conduziram a uma “decisão mais fácil”. A atual candidatura, ao contrário, é fruto de “longa reflexão e análise das possibilidades e consequências”, pois se sente “mais maduro e preparado para o desafio”.
“A Bahia não estará bem se Salvador estiver mal”, continuou Neto, acrescentando que “o momento não aceita omissão” e que prefere “errar tentando acertar” a omitir-se. Ressaltando que “todos podem mudar”, afirmou que aprendeu “a valorizar o diálogo e a busca do consenso”.
Promessa é fazer de Salvador “uma referência” – Ao tratar da situação da cidade, Neto falou do “trânsito caótico” e das carências em saúde, educação e segurança, frisando que “Salvador não é assim, está assim”. Entretanto, não quis se aprofundar nos problemas “para não perder a tarde inteira”, julgando mais apropriado “falar de soluções”.
“Não vou procurar culpados nem transferir a solução para os governos federal e estadual. Vou descer do palanque e mergulhar na gestão. Não vou usar desculpas como bengala, mas trabalhar com autoridade, legitimidade e coragem, chamando para mim a responsabilidade. A cidade quer um prefeito cuja administração seja exemplo, modelo e referência para o Brasil”.
O parlamentar lançou uma convocação aos empresários para que participem com “atividades que promovam o desenvolvimento” da cidade e disse que “não existem milagres, mas ideias e criatividade plena para atingir as grandes conquistas”, prometendo que “o prefeito governará Salvador nas ruas, ao lado dos problemas”.
Candidato ainda fala em unidade da oposição – Depois de acusar “as lideranças políticas que governam o Estado” de “omissas com o povo e com a Bahia”, Neto disse que a colocação de seu nome no páreo não implica o fim dos entendimentos com outros partidos de oposição, aos quais vai apresentar “propostas de construção de alianças que transformem o futuro de Salvador”.
O DEM – continuou – vai insistir no diálogo para achar “um caminho de unidade talvez ainda no primeiro turno, e, não sendo possível, espera que “todos tenham maturidade para entender que o resultado final é comum: a vitória em Salvador para evitar que a hegemonia partidária se estabeleça em todas as esferas de poder”.
Segundo ele, foi esse espírito que o moveu há quatro anos, quando, tendo ficado de fora do segundo turno, atendeu ao apelo do então ministro Geddel Vieira Lima para o apoio ao candidato do PMDB, João Henrique. “Política sempre foi, para mim, dever de casa, que aprendi com meu tio Luís Eduardo, com meu pai, ACM Júnior, e, claro, com meu avô Antonio Carlos Magalhães”. (Por Escrito)