Luís Augusto Gomes
É curioso como não tenha sido notado que, ao decretar a inviabilidade da operação isolada do trecho pronto do metrô de Salvador, a ministra Miriam Belchior apenas repetiu o que já havia dito o governador Jaques Wagner em seu jantar de fim de ano com a imprensa.
No dia 8 de dezembro de 2011, o governador previa que a linha Lapa-Acesso Norte “só vai operar em 2014”, juntamente com o metrô da Paralela, porque o baixo volume de passageiros exigiria subsídios que representariam “uma fábula de dinheiro”.
A propósito, o governador ainda não tinha admitido que o novo trecho por ele definido, de 22 quilômetros, entre o Acesso Norte e Lauro de Freitas, não seria concluído em seu mandato.
Dizia na ocasião: “A obra preferencialmente tem que ficar pronta em julho de 2014, mas com certeza estará pronta até o final de 2014”.
O governador estimou ainda que a parceria público-privada prevista para administrar o sistema não se concretizaria porque nenhuma empresa participaria da licitação nessas condições. E aproveitou para anunciar para fevereiro de 2012 o processo licitatório.
Política foi entrave maior desde o início do projeto – A verdade é que a politização do metrô de Salvador vem de longe. Foi uma iniciativa da Prefeitura carlista de Antonio Imbassahy em contra-ataque ao fracassado “bonde moderno” do ex-prefeito Mário Kertész, que embora de origem carlista elegeu-se já como anticarlista, que depois deixaria de ser também.
O projeto foi tocado a partir de 2000 com previsão de conclusão para 2004, mas a chegada dos petistas ao poder federal com Lula em 2003, tendo justamente Nelson Pelegrino na liderança do PT na Câmara, fechou-se a torneira do dinheiro. Em 2005, já empossado o prefeito João Henrique, o governo federal impõe a redução para seis quilômetros.
Nestes anos, toda sorte de problemas – financeiros, contábeis, trabalhistas, técnicos e, naturalmente, políticos – corroeu a obra do metrô, tornando-a motivo de investigação, paralisia e chacota pública, e, com o passar do tempo, mais se alia à sua inutilidade a condição de trituradora de recursos.
Ônibus é o nosso destino – O que se pode prever, ante a falta de espírito público com que o metrô é tocado desde a origem, é que teremos em breve equipamentos e linha sucateados, pois o governo não se empenhará em ato que possa beneficiar o concorrente, e mesmo a linha da Paralela não passará da fase de arrebentar meios-fios e esburacar o canteiro da avenida. (Por Escrito)