Reportagem publicada na edição deste domingo (4) do jornal O Globo mostra como será a estratégia do economiasta José Sérgio Gabrielli, ex-presidente da Petrobras, para ser o candidato do PT à sucessão do governador Jaques Wagner. A acolhida de Gabrielli na Bahia tem eco no cuidado que a Petrobras dispensa ao estado. Em 2011, foram pelo menos 55 projetos de patrocínio de festas e eventos destinados à Bahia. Grande parte, verbas para o carnaval e para festas de São João.
Quem entra na orla marítima de Salvador pela Praia da Armação dá de cara com um barbudo sorridente e engravatado. Muitos ainda não conhecem o rosto estampado no outdoor do Clube dos Empregados da Petrobras (Cepe), ao lado da frase “Desafio sempre será a sua energia” — variante de um famoso slogan da estatal.
Mas nos bastidores da política baiana, só se fala dele. O dono da barba é o economista José Sérgio Gabrielli, ex-presidente da Petrobras que há duas semanas desembarcou na capital baiana disposto a ser “um soldado do governador Jaques Wagner (PT)”.
Seu projeto, ao sair do comando da maior empresa do país para o governo baiano, é alavancar a candidatura à sucessão estadual.
Depois da tensão para remover os soldados da PM que ocuparam a Assembleia Legislativa, na greve da categoria, a oferta pôs Wagner diante do dilema de acomodar o “soldado Gabrielli” na equipe.
É nítida a insatisfação de outros aliados que acalentam as mesmas ambições políticas. Embora a decisão seja aguardada para o meio da semana, pois governador está na Alemanha com a presidente Dilma Rousseff, é provável que o ex-presidente da Petrobras ocupe a Secretaria estadual de Planejamento no lugar de Zezéu Ribeiro (PT), que reassumirá a contragosto o mandato de deputado federal.
— Fiquei um ano montando intensamente projetos de larga escala, com alcance regional e nacional, e na hora de capitalizar isso para a Bahia, eu saio — desabafou semana passada na imprensa local.
Pelo menos outros três petistas sonham encabeçar a chapa da situação em 2014: Rui Costa, secretário-chefe da Casa Civil e amigo de Jaques Wagner há 30 anos; Walter Pinheiro, líder do PT no Senado Federal; e Laura Gramacho, prefeita do município de Lauro de Freitas. O cientista político Jorge Almeira, da Universidade Federal da Bahia (UFBA), descreve o desembarque de Gabrielli como “situação complexa” por suspeitar que o economista não faça parte da lista de preferidos do governador:
— Jaques Wagner não pode negar espaço a ele. É um quadro com autonomia muito grande. Se eleito, não será visto como continuidade. Não é herdeiro do governador.
Conhecido pelo estilo “bateu, levou” exibido nos seis anos a frente da Petrobras, que lhe rendeu a reputação de arrogante, Gabrielli esforça-se agora para demonstrar que o rosto simpático não é só na foto do outdoor. Recebido no aeroporto de Salvador pelos blocos afros Ilê Aiyê, Malê Debalê, Muzenza e Os Negões, ofereceu as bochechas para o beijo das baianas. Até sexta-feira, ele ainda aguardava a confirmação oficial do convite de Wagner. Indagado sobre a candidatura à sucessão, desconversou:
— À sucessão da prefeitura de Salvador, não (sou candidato).
Gabrielli irá a todas as regiões – Ex-professor da UFBA, com doutorado pela Universidade de Boston, Gabrielli foi fundador do PT baiano, partido pelo qual disputou o governo estadual em 1990, perdendo para Antônio Carlos Magalhães. Foi diretor Financeiro e de Relações com Investidores da Petrobras entre 2003 e 2005, quando assumiu a presidência da estatal no lugar de José Eduardo Dutra. É essa a experiência que pretende levar agora para o governo baiano.
— Meu perfil profissional envolve questões relacionadas com gestão, captação de recursos, relacionamento com novos projetos, planos de desenvolvimento. A função será de secretário do estado da Bahia, onde pretendo visitar todas as suas regiões — disse.
A acolhida de Gabrielli na Bahia tem eco no cuidado que a Petrobras dispensa ao estado. Em 2011, foram pelo menos 55 projetos de patrocínio de festas e eventos destinados à Bahia. Grande parte, verbas para o carnaval e para festas de São João. No ano passado, foram R$ 14,7 milhões destinados a projetos que vão do “São João do Dendengoso 2011” (R$ 1,56 milhão) ao patrocínio de evento da Associação de Magistrados da Bahia. Para o carnaval do ano passado, a estatal reservou verba para trios elétricos como Armandinho, Tripodão e Novos Baianos. E também para blocos como o Olodum e o Ileaiê. (Informações de O Globo)